A vida tornou-se um jab desferido em descasos públicos,
Sofrimentos psíquicos e egoísmos de doses homéricas.
É um direto com os punhos em que
A dor do outro se tornou indiferente...
É um rápido cruzado de direita que rende
Glórias aos facínoras e indiferentes.
Nela, o bestial público está sempre a gritar:
Viva a mentira! Santificada seja a desigualdade!
O oponente debocha com um ilegal gancho desferido na nuca
E depois hasteia a bandeira da injustiça e da imoralidade.
É o peso do ringue um fardo inútil de insatisfação e cansaço?
Nocaute que leva a coisa nenhuma? Palco mudo e sem sentido?
Mesmo abatido, com o crânio destroçado, ferve no lutador
O esforço em desenvolver estratégias que acalme a luta.
Renasce entre as mãos o cuidado consigo, com os amáveis,
Que o faz se elevar além dos insultos da multidão.
A luta, o sofrido na pele faz florescer vontades,
Desejos de dar pontos nos rasgados da face,
Desferir justos uppercuts num cenário marcadamente injusto.
A felicidade do lutador é tentar desfazer o veneno recebido,
Permanecer de pé mesmo com os dentes quebrados.
É buscar altivez e sentido em dias em que o corpo é escravizado pelo erro.