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1996

1996
Jefferson Santos
ago. 1 - 2 min de leitura
010

Novembro de 1996, dia 5 do mês, a data mais esperada por pretos proletários como eu, que após trabalhar duro, no fim ficar com uma parte ínfima do lucro, fato que é fruto de uma lógica usurpadora, genocida, parceira do luto, que oprime e deixa puto, aqueles que às 5 da manhã já estão na missão pegando o busão, lotado, que no final do dia arriscam serem esculachados e chamados de vagabundos.

Desde os 14 anos eu estou incluso formalmente nesta rotina. Porém, cada dia é um dia, e naquele dia 5 eu já sabia que muita coisa mudaria, uma vida antes e outra depois e tudo dependia de qual escolha eu faria sobre o que colocar no centro desconhecido do meu universo.

Escolhi pelo transformador, único, mágico, diferente de todos os dias 5 que já havia vivido até aquela data, que no filme da minha vida representava um ponto de virada, de uma narrativa que acabara de ser completamente modificada pela chegada de um personagem vital em minha história que jamais seria igual, por conta de uma gestação que não deu a luz a um, mas a dois.

Meu primeiro filho chegara ao mundo, os sentimentos me deixaram mudo, o medo foi estarrecedor, mas belo como um beija flor, exímio e singular voador,
explorador de diversos jardins, que no meu temor semeou e fez florescer jasmim.

Assim que para mim aconteceu sua chegada, foi aí que nasci pai, contrariando as estatísticas, onde os números indicavam e indicam grande ausência desta figura, como regra em famílias da mesma realidade social, principalmente aos 18 anos de idade.

Mas, vi na responsabilidade a possibilidade de aprender mais sobre o que é o amor, a partir de uma história marcada pelo dissabor. Se sou o que sou, minha memória, o que vivi, minha trajetória, as quedas, as frustrações, devaneios e vitórias, não teve glória, prazer, frutos que colhi daquilo que escolhi semear, nas diversas vezes que cai e consegui me levantar, tudo só foi possível porque tornar-se pai fortaleceu minha capacidade de amar.

Autor: Jefferson Santos

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