A paixão que sentia por ela
Era coisa bem singela
Tão bonita, e tão sincera
Que cheguei a pintar numa tela
Com o azul que cobria o céu
E do alto beijava o mar
Pintei os seus olhos serenos
Para o mundo se admirar
E o mundo se admirou
Do amarelo que era feito o sol
E que com o ouro se parecia
Dei vida aos seus lindos cabelos
Causando inveja ao dia
E o dia sentiu inveja
O corpo, escultura dos deuses
A pele, um pomar de maçãs
Formosa tal qual uma vênus
E o mundo morria de amor
E o mundo te amou
De todas as cores usei
Para ilustrar a paixão
Só deixei o preto de lado
Para não causar má impressão
E não causou
Depois de pronta a tela
Que ao preto ignorava
Fui eu, ao encontro correndo
Mostrar-lhe a obra acabada
E então mostrei
O dia tornou-se escuro
E a fé que eu tinha acabava
Quando olhou nos meus olhos sorrindo
Dizendo que a outro amava
E então, amou
Sem chão e sem céu eu fiquei
Casando-me com a solidão
Voltei atrás com o preto
E pintei o meu coração.