Na vastidão das praias percorridas
Não encontro robusta bussola
Que ofereça segurança à dualidade do navegar.
Sem o olhar encantado de uma criação especial,
Vejo que o ser navegante se constrói diariamente,
Passo a passo em situações concretas diante do céu.
No vasto mar dos símbolos, leis, costumes, obrigações,
O bicho pensante é obrigado a suportar
As contingencias e em pesada ancora é livre para escolher...
Tomar decisões dentro dos limites impostos pelo tenebroso mar.
Não se sabe para onde navegar, só continua remando.
A vida aqui parece sórdido vendaval, o qual não perdoa quem permanece
Inerte em insalubres aguas... Esperando o mar a tudo transformar.
À deriva na noite, o remo não pode cessar.
Sem horizonte definido, sem futuro dourado, sem faróis de libertação,
Eu vou, me jogo no incerto, invento o fazer, refaço o agir.
E com os braços cansados sinto que remar é sofrer.
É ranger os dentes de raiva diante de duro trabalho.
É obrigar o crânio a se contentar com efêmeras alegrias,
Ser nauseado em uma embarcação que balança entre a derrota e o desengano.
No agir perante a tempestade entre vômitos, futilidades e agitações,
É necessário remar, fortificar coragem, mover, respirar para toda tragédia atravessar.