O dente que lhe faltava
- Achei estranho, dr., o sorriso dele faltando um dente naquele mesmo dia do desaparecimento da garota. Inclusive, causou-me mais espanto a falta do dente que o triste acontecido. Não me leve a mal, dr., ele tinha uma dentição tão perfeita, não havia razão para aquilo. A moça, ainda eu tinha esperança que aparecesse. Mas, possivelmente, ter me chocado daquela maneira pelo sorriso dele tenha sido, de fato, um mau presságio. O dente que lhe faltava era a morte que me sorria.
Todos os dentes: o corpo
O corpo da garota foi encontrado cerca de quinze dias após o desaparecimento. Encontrava-se irreconhecível, mas o pai poderia ter logo a identificado pela arcada dentária se não fosse por um detalhe intrigante: estava completa. Sua filha, no entanto, desde muito, faltava um dos molares. Contudo, o exame de DNA confirmou ser o corpo da adolescente. Estranhamente, a sua filha tinha adquirido um dente.
A segunda vítima também foi encontrada poucos dias a seguir o desaparecimento. E assim como a primeira, aparecera com a dentição completa. Da arcada original lhe faltavam três dentes, e espantosamente estes se reconstituíram.
Uma terceira vítima, e uma quarta, posteriormente, ofereceram o retrato de um esdrúxulo psicopata. Ele procurava suas vítimas pelos dentes que lhe faltavam. E os completava com outros.
O mistério se encerrou, assim como a série de crimes, quando foi encontrado o corpo do assassino. Presumiu-se ser ele, já que toda a sua dentição lhe era ausente, exceto, pelo dente siso, recoberto, aliás, por um séria pericoronarite inflamatória.
A extração
- A menina relutou, vejam só, em arrancar aquele bendito dente, queria que os pais pagassem um procedimento de canal. Era caro e doloroso, eles disseram, a menina disse. Se não fosse por isso, tem cabimento?, ela poderia estar viva. Pobre menina!
1994
- Você tem um sorriso bonito!
- Meu Deus, e se um dia me faltar um dente?!
- Não se preocupe. Eu completaria o seu sorriso com o meu.
(do volume "Objetos Mortais Inusitados e outros contos")