A função da literatura
É esmurrar a caixa craniana
Até que despertem todos os neurônios.
É esfacelar a alienação,
Permitir ao homem outro olhar sobre si,
Mastigar o mundo em palavras para que a boca
Vomite a podridão que vagueia nos pensamentos rasos.
Como dizia Brecht clamando justiça pelo povo,
A escrita é martelo para moldar a realidade...
É oferecer novo sentido aos cacos que rasgam a vida,
Pisar sem medo nas pedras suportadas em dúbios caminhos,
Encher o peito de versos para tolerar o mundo caduco como fez Drummond.
Ler um instigante livro é despertar de inquietantes sonhos a lá Kafka.
É ser como Machado em sua ferina ironia contra os moralismos da caduca sociedade.
Escrever um romance é aspirar à liberdade
Na esconjuração de crimes como Dostoievski.
É trazer a fúria contra as opressões,
É ser o fio fazedor de alternativas renovadoras contra o país que privilegia os ricos...
É ser como Lima Barreto em sua sátira contra os vícios políticos. Produzir literatura é exorcizar os próprios demônios,
É terapia contra a vida insossa,
É falar da vida dura nos rincões do planeta como Graciliano,
Escrever sombrios poemas sobre a decomposição da matéria a exemplo de Augusto.
É costurar duras letras sobre o alto preço do feijão em sujos versos como Gullar.
É ultrapassar fronteiras, mergulhar a cabeça em alteridades, alargar o próprio mundo.