Mulher, negra e favelada...
A sociedade decreta: é oca para a arte,
O que te cabe é a labuta manual.
Acusada de roubo,
Mãe solo na escuridão de vielas,
Alimenta a prole com pouco dinheiro,
Constrói o próprio lar catando papelão...
A sociedade decreta: tua sentença é apenas cozinhar no fogão.
Carolina, mulher do trabalho braçal,
Que no aprendizado escolar e no prazer da leitura
Teceu palavras de fortes denúncias,
Superou a origem social,
A falta de comida, as correntes racistas,
Instrumentos de exploração capitalista.
O seu diário literário desseca a fome
Que estremece os corpos dos humildes,
Deglute a tristeza das crianças descalças
Que não visitam shoppings e parques de diversões.
Quantas novas Carolinas perdemos
Ao não oferecer decente escola para as crianças?
Quantas novas Carolinas não cultivamos
Quando o Estado é ausente nas
Semi eternas favelas deste país?
A sociedade embriagada de meritocracia
Gestou um exército de desdentados vivendo
Abaixo da linha da civilidade.