Tudo transmutando diante de seu olhar. Redemoinho de objetos dançantes, música assovio entrando pelas pequenas frestas.
Portas e janelas uivando, vento forte.
Ela parada, olhando...
Tudo lá, dentro e fora, gritando o amor enjaulado no peito, tudo querendo ser possível como a planta que tem raíz cravada na terra e o corpo de liberdade para ser e não ser.
As flores ainda são possíveis depois da tempestade.
Parecia que estava desistindo, mas não, tinha dentro uma força pulsando, aquela que só as mães possuem e que fica gravada na memória das filhas para a hora dos abismos: afeto, amparo, colo, conselho, cura...
Ela ainda imóvel, escuta o silêncio das pessoas lá dentro, tudo mostra.
Fala-se da chuva, das escolhas de cada um, da esperança de que tudo ficará bem.
Quem vai decidir por você?
Fala-se do que tem que ruir, do vazio.
Do que tem que emergir das ruínas para preencher.
Entende que é de pássaros que se pode atravessar com risos este infinito céu azul que aparece depois da tempestade.
Pisca os olhos, volta a si, faz um café forte, toma como se fosse o último.
Deixa um áudio no whatsapp: Oi, tudo bem com você? Vamos ao cinema? Ando querendo sonhar junto, sonho de mim, de nós e dos outros. É urgente, a tempestade já passou.
Helena Soares Aphonso
16-11-2020