A palavra aqui
A palavra ali
Ela sempre esteve aqui
No caráter de auxílio
Num espaço de exílio
A literatura fala
Ecoa por ondas sonoras nunca ditas
É compreendida pelo discurso do outro
Assim ela entrou na minha vida
Para que todas as coisas que eu não pude falar
Para que todos os lugares onde minha voz não chega
Ela aterrizasse primeiro
Muitos falam por mim
E por eles posso ser compreendida
Desde muito pequena, a partir dos contos e dos desencontros e das dores de crescimento
Tinha sempre um acompanhante
Ele ressoava em meus ouvidos como um constante "avante!"
De certa forma, foi meu primeiro amante
Clarice disse que achava que livro era vivo, como bicho e planta
Para mim, ele era a companhia de uma solidão que era a estampa
A capa
A lombada
O prefácio
E num único ser vivo, eram milhares
E o avante era um vai, continue!
Mais uma página para que o sentimento de ser só ficasse apenas na realidade após um fim
Como este aqui, assim
A literatura fala
A partir dela pude experimentar linhas musicais de sonoridades que só faziam sentido na minha permanência
Um ré, mi, sol, um dó…
E ela continua falando
Para que nunca, nunca mesmo, me deixe só