Muito ousada esta decisão que tomei ao expressar em palavras algo como o que sinto pela literatura e como ela mudou minha vida. É como aventurar-se em terrenos que só existem na imaginação e reduzi-los em algumas páginas. Será que é possível? Como estamos tratando de Literatura, então sim.
Foi quando comecei a trilhar os caminhos desta tal possibilidade que conheci a Literatura. Naquela época, o conceito de Literatura ainda não fazia sentido para mim porque tudo o que o meu “eu” de sete anos conhecia neste sentido era a obra “A História sem Fim”, do autor Michael Ende. Eu não li o livro dele, mas assisti ao filme. Imaginem a minha surpresa quando descobri que aquele filme no qual o garoto voava em um cachorro gigante viajando por vários mundos toda vez que folheava as páginas de um livro, surgiu realmente de algumas folhas que eu poderia ter acesso! Tudo o que eu pensava era que eu queria experimentar as aventuras daquele garoto. Pela primeira vez na minha história, algo que acontecia nos filmes poderia acontecer na vida real. Era uma fuga para todos os lugares que eu queria ir e não podia, era a chance de ter e ser tudo o que eu queria!
Minha família tem cinco pessoas, onde sou a mais velha dentre três irmãos. Naqueles dias éramos rodeados de simplicidade! Apesar das condições serem limitadas e os gastos extremamente calculados, éramos muito felizes! E um dos nossos passatempos era assistir filmes, e o escolhido daquele final de semana era justamente A História Sem Fim! Assisti repetidas vezes e em todas elas a sensação de expectativa nas cenas era a mesma! Foi aí que conheci o leitor e personagem Bastian, querendo me tornar também uma leitora. Meus pais me explicaram que tudo aquilo acontecia na imaginação do pequeno Bastian, e que se eu quisesse experimentar, teria muitas portas abertas se pegasse gosto pela leitura!
De imediato, pedi a meu pai que me comprasse a obra A História sem Fim. Ele não encontrou o volume à venda e eu fiquei desapontada, não por muito tempo, porque minha mãe me emprestou um livro que ela tinha desde a adolescência, do autor Raul Pompeu, o Ateneu, para prender minha atenção, já que eu queria testar se assim como Bastian, eu iria sentir um monte de emoções me submetendo à leitura.
Apesar da linguagem deveras avançada para a criança que eu era, esforcei-me, conseguindo imaginar as cenas nos livros. Quando eu não conseguia entender alguma frase, esforçava minha mente e perguntava se esta tensão era porque eu estava usando minha imaginação. Meus pais confirmavam e explicavam que se todas as vezes que eu não conhecesse uma palavra, pesquisasse sobre ela, quando finalizasse a leitura, seria uma criança muito mais inteligente.
A ideia de saber um monte de coisas sobre tudo me encantou. Parti para o próximo livro: Pinóquio. Aquela leitura foi tão mansa, tão divertida e dinâmica que eu me perguntava como que uma pessoa conseguiu escrever algo tão bom que a gente lia com facilidade! Novamente fui informada de que quem lê bastante, consegue escrever muito bem, e eu queria uma posição de destaque nas aulas de produção de texto. Então parti para o próximo livro: James e o Pêssego Gigante, de Roald Dahl. Nunca, nunca vou esquecer aquela história e da viagem que eu fiz dentro de um pêssego, mesmo sem sair do lugar em uma cidadezinha do interior. Eu também me lembro que durante a leitura, passei a comer frutas, o que antes era mais difícil. Não que eu quisesse destruir algo muito importante daquele livro, mas é que o livro descrevia aquele pêssego como algo tão cheiroso, macio e bonito que sim, ficou apetitoso!
Depois do passeio de pêssego, eu visitei a Europa, voltei no tempo, participei de guerras e fui testemunha de vários amores. Às vezes fazia várias coisas ao mesmo tempo, dependendo de quantos livros eu estava lendo simultaneamente. Então posso dizer que a Literatura proporcionou uma vida cheia de aventuras, riquezas e prazeres para uma garota que até então pequena, frágil e que nada sabia do mundo. Portanto, a Literatura Mudou a Minha Vida!
