No silêncio da madrugada, na insônia que incomoda,
A cabeça, frágil na racionalidade e em rodopios surreais,
Encontra um obscuro ser em forma de corvo,
O animal do poeta louco americano.
Ele apavora os ouvidos com a lacônica frase:
Há de ser isso e nada mais...
Palavras que incitam íngremes indagações.
A incerta ave, movendo entre as frestas dos meus dissabores,
Abre um oceano de inquietudes ao questionar sobre tudo:
O que te ensinou o silêncio ensurdecedor do universo?
Que o infinito do cosmos consumirá suas carnes em total indiferença?
E o que é ter uma boa vida - o axioma cotidiano
De constituir status social, estável carreira e acumulação de capital?
A tua felicidade está em vestir a pele de Sísifo
Para empurrar a pedra para cima e fazer o
Melhor todos os dias? Mesmo que o rochedo
Role para baixo e triture todos os esforços?
A vida, esta experiência bravissima,
Plenitude abstrata entre choros e alegrias,
Noite profunda rumo ao frio húmus,
Vale a pena ser experimentada e justificada
Mediante toda a imensidão do universo?
É possível gozar ilhas de contentamento
Nas correntes e ondas de sofrimento?
E depois de aniquilar minhas poucas certezas,
O passaro disse: cubra a mente de doces ilusões,
Repousa teus lamentos e o ego repleto de paixões...
Há de ser dessa forma e nada mais!
E assim, aos quatorze anos de idade fui
Dormir ao ter o primeiro encontro com a ave
Do quintal poético de Poe... Desde então ela abala
Meu mundo com pesadas indagações.