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Sedentos

Sedentos
Luciana Canuto
mai. 15 - 2 min de leitura
010

Não me tenham como louca...ou lasciva. Mas quando o forasteiro me segurou levemente pelo braço senti um arrepio que contrastou consideravelmente com o momento solene. Ele tem mãos que obviamente nunca viram uma enxada, um diferencial nesse lugar onde todos sobrevivem do plantio.

O gesto se prolongou em um cumprimento simpático e quase malicioso para ser inofensivo, pois o rapaz percebeu de pronto minha reação e me presenteou com um sorriso animado de dentes reluzentes. Eu diria até artificiais de tão brancos.

Estava curtindo ao quadrado a minha falta de jeito. E depois de um tempo avaliando minhas bochechas afogueadas enfim comentou:

_Nunca vi um velório tão demorado. Esse enterro não sai nunca?

Nossa!!! Como pude esquecer que estávamos todos ali para o evento do ano na cidade onde nada acontece. O prefeito fanfarrão em roteiro clichê teve um peripaque e bateu as botas na cama da amante. O velório seguia em ritos intermináveis conduzido pela carrancuda primeira dama e juntava desde figuras ilustres até os bebuns do boteco. Todos beirando o desmaio devido ao calor escaldante. E em meio à hipocrisia da dor eis que apareceu esse estranho por quem caí de amor em exatos milésimos de segundos.

Agradeci ao Sagrado por ter resolvido colocar minha roupa mais graciosa. Um vestido preto e branco e que caía muito bem para a ocasião e, de quebra, descolara uma paquera.

_Era você quem eu estava procurando! _ disse ele num tom bem humorado

_Não precisa exagerar...

_É sério. Me faça a grande gentileza de trazer outro copo de água? Aquele outro que você me deu estava parecendo uma sopa de tão quente.

A maior ironia é que percebi que estava no local mais oportuno do mundo para enterrar o tal amor não correspondido.

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