Ele acordava com os primeiros raios de sol penetrando a janela, sempre aberta. Se adentrara noite a dentro, compondo sequências de sons, como se utilizasse um pincel de um pelo só, numa pintura sonora gravada em seu cérebro, cobria seus olhos com a coberta e ficava ali rebobinando as memórias recentes e dos sonhos frequentes. No mês de maio de 2021, por caminhos tortuosos e ásperos, dentro da grande teia digital, conheceu uma escritora que também se indignava com atitudes inescrupulosas de gente que usa a boa fé e pureza de criadores em busca de editores.
Num primeiro momento, o que lhe chamou a atenção foi a expressão dos olhos da escritora. Não seu belo rosto, com lábios carnudos sensuais, entreabertos, como uma pintura de Vermer, sempre sugerindo algo a dizer. A cabeleireira farta, tingida de preto, as roupas pretas, fazendo a ilusão de ótica de um corpo gordinho, parecer magrinho ao estilo Coco Chanel, correntes grossas de prata, sugerindo simpatia ao movimento Dark. Mas a expressão dos seus olhos entrava em contradição ao figurino e detalhes semióticos. Aos poucos percebeu que algo nessa expressão dessa senhora o provocava. Algo que penetrava no âmago de algum lugar dentro de alguma memória em suas moléculas. Percebeu que havia sido contaminado pela expressão dos olhos teus (dela) e chamou isso de Amor. Mesmo compondo um poema musical para atender um trabalho também inspirado em uma expressão ótica, foi desviado pela forte presença dessa escritora que escreveu não dominar a poesia mas sim, ser dominada por ela. Bingo! Ai ficou de joelhos diante da Musa!
Tentou de tudo uma aproximação mesmo separados fisicamente por um oceano. Propôs c contrato de casamento arranjado com o objetivo de garantir ir e vir para os dois. Propôs manterem uma correspondência de cartas escritas à mão ✍️. Propôs criarem um (a) personagem pseudônima para publicarem anonimamente a quatro mãos.
A escritora, parecendo mais um atriz saída de um “film noir”, postando insistentemente fotos “ego trip”... escondeu-se fechando como uma ostra 🦪 escondendo sua(s) pérola(s).
Nunca recebeu nenhuma resposta e assim entendeu que o Amor nasce de estranhamentos que alguém provoca raramente um mergulho em nós mesmos, servindo de espelho para tentamos entender algo inexplicável que faz sentir vivos.