“Alice, depois de tudo renascerá a vida, o mundo, quiçá um país?” – hesitei.
A menina pegou minha mão para que eu visse com os próprios olhos que o planeta germinaria com pessoas melhores. Sim, porque ninguém poderia passar por isso em vão. Descemos como formigas por raízes elétricas rumo à imensidão. Desembarcamos junto à elite da salvação: cientistas, médicos, enfermeiros e, amas de leite para os órfãos da Terra, os de chão perdido, de horizonte algum. O futuro de Alice chegou tripulado por heróis: o Zé que dividiu a marmita com os desalentados, a Maria que encarou a superlotação do vírus pela diária e os que abdicaram de qualquer coisa para quem nada tinha nem amor. Ela profetizou que o coração mudaria de lugar e subiria à cabeça, tomando a rédea das decisões. E o planeta floresceu todo o grão pela mão da Alice do mundo novo.
Justamente agora acordei na poltrona da sessão da tarde.
Do livro "Cadeiras mancas", de Annalu Braga (2021/Ed. Patuá)