Caro Futuro,
escrevo a você que ainda viu pouco desse mundo. Seus pais, filho, já não o levam ao parque nos fins de semana, não o deixam brincar com os colegas de escola. Também já não funciona a escola, ou melhor, funciona, mas do outro lado da tela de um computador. Só não funciona o espaço de tijolos, com mangueiras onde jogariam pique-esconde.
Eu lhe escrevo, filho, pela sua pouca idade. Hoje talvez você não entenda, mas saiba que em você também está a esperança de dias melhores. A esperança de uma vida que respire livre novamente. Uma vida que não nos tape a boca, não nos prive de abraços apertados, não nos prive do amor em plenitude. E por falar em amor, filho, temos aprendido tão pouco, parece. Se nos dominava o medo, agora domina também o egoísmo.
Não valorizo aqui o sofrimento, filho. Falo de perseverança e fé. Fé que não limita: “fé sincera, de coração purificado e boa consciência”. Fé na cura, mas não na religiosidade estrita como cura.
A fé, filho, está para além dos muros de uma igreja. Sua casa agora é a Igreja. Fomos recolhidos à intimidade: à nossa intimidade como família, à intimidade com Deus e à intimidade de cada um consigo mesmo. Para aprendermos a ser família. E existir unidade, nos cuidarmos, e não só: procurarmos deixar a salvo também os outros. Isso é também ser família. No fim das contas, filho, deveríamos pensar e agir como uma grande família. Imagine! Uma grande família, “sem guerra, gana ou fome, vivendo como uma só”.
Você há de ser muito melhor!
Com muita esperança,
pai presente.