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As esperanças que estão vindo também das ruas

As esperanças que estão vindo também das ruas
Paloma Silveira
jun. 9 - 6 min de leitura
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No sábado, 29 de maio de 2021, as ruas de várias cidades brasileiras foram tomadas pela VIDA. Milhares de pessoas as ocuparam com um objetivo em comum: protestar contra esse governo promotor da pandemia, de mortes e do que há de pior em nós. Manifestações pacíficas que foram quase completamente ignoradas pela mídia hegemônica. Mais uma vez, os grandes veículos midiáticos cumpriram o seu papel de apoiadores do status quo vigente, mesmo quando esse é de mais de 2000 mortes diárias, contabilizando 500 mil* , da CPI da Covid-19, das violências, dos descasos e escárnios constantes do antipresidente** , do neofascismo.

Mas o que esperar dessa mídia que gestou e pariu esse governo, se não essa postura? O passado recente e o não tão longínquo, o do apoio à ditadura civil-militar, 1964 a 1985, não nos deixam esquecer de que lado ela parece sempre estar. Mesmo com a baixa cobertura da mídia hegemônica, mesmo com a violência absurda que aconteceu no Recife e do menosprezo do antipresidente com sua fala patética de que “faltou erva e dinheiro”, o Brasil com S*** (re)apareceu com força. Juntou-se a/os milhares que foram as ruas no ano passado e em 2019 no Chile – os resultados das recentes eleições e a elaboração da nova Constituição materializam as conquistas desses movimentos – e a/os milhares que estão nas ruas na Colômbia há mais de um mês.

Diversas cidades colombianas estão sendo tomadas por diferentes manifestações desde 28 de abril de 2021. Inicialmente convocadas para secontraporem ao projeto de reforma tributária proposto pelo governo de Iván Duque, as manifestações se ampliaram e continuam tendo força, apesar da brutal reação do Estado: dezenas de manifestantes foram mortos/as e centenas estão desaparecides. Algumas conquistas já foram alcançadas, dois projetos de reformas, tributária e da saúde, foram derrotados e dois ministros renunciaram (MELLO, 2021).

Nem com a pandemia, o capitalismo neoliberal tem dado trégua. Propõe incansavelmente reformas que devastam ainda mais a VIDA. Os compromissos permanentes com o capital, suas ramificações e o poder são os motores desse sistema de moer e matar gentes. Se sempre vivemos e/ou nos habituamos a viver com as diferentes barbaridades produzidas por esse ordenamento social perverso e extremamente iníquo, algo parece estar se movendo nesse momento histórico.

As crises sociais, políticas e econômicas que constituem o próprio sistema, acrescidas à crise sanitária e ao colapso climático, recrudesceram ainda mais as nossas mazelas sociais interseccionadas pelas dimensões raciais, de gênero, territoriais, sexualidades etc. As fantasias falaciosas de outrora como, por exemplo, “com a retomada da economia a VIDA melhora”, vendidas como únicas soluções para “resolverem” os problemas, não estão mais produzindo os mesmos efeitos alienantes. A sensação de que “não se tem mais nada a perder” é o que parece estar mobilizando as pessoas no Brasil, no Chile, na Colômbia... Quando a morte severina**** se fortalece, a VIDA tem que se impor, não existindo outros caminhos se não os das lutas.

Protestos nas redes sociais, lives solidárias, ações nas periferias urbanas, dos povos originários e quilombolas, ruas ocupadas por milhares de pessoas mesmo com a pandemia, panelaços, dentre outras formas de lutas e resistências, estão renovando as esperanças e movimentando a VIDA. Se o BraZil aposta e se compromete com esse projeto social de destruições e de mortes, o Brasil com S junta-se ao despertar da América do Sul disputando o presente e o futuro, lutando pela VIDA. Foi esse Brasil que saiu às ruas no final de maio e é ele que vai novamente às ruas no sábado, 19 de junho de 2021 (SAMPAIO, 2021). Diante desse momento nefasto que vivemos, a VIDA tem que prevalecer e para isso necessita de você. Se não puder ir às ruas, se engaje de outras formas, ocupe as redes sociais, as janelas, varandas com gritos, panelas etc. Não aceitemos mais o que é inaceitável! É preciso agir.

É PRECISO AGIR Bertold Brecht (1898-1956) Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego Também não me importei Agora estão me levando Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo

*Arredondamos para 500 mil, considerando as subnotificações. Infelizmente, esse número de mortes pode ser ainda maior.
**Termo utilizado pela jornalista Eliane Brum para se referir ao atual presidente.
***Referência a música Querelas do Brasil composta por Aldir Blanc e Maurício Tapajós, e interpretada magistralmente por Elis Regina. Acessar em: https://www.youtube.com/watch?v=bkENNwwCqgM

****E somos Severinos, iguais em tudo na vida. Morremos de morte igual, da mesma morte Severina, que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia. (Trecho do poema Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto).

*****Texto publicado originalmente na seção Debates e Pensamentos do Observatório de Análise Política em Saúde (OAPS). Disponível em:  

https://analisepoliticaemsaude.org/oaps/documentos/pensamentos/as-esperancas-que-estao-vindo-tambem-das-ruas/

Referências:

MELLO, Michele de. Colômbia completa 1 mês de paralisação nacional com 60 mortos e 120 desaparecidos. 2021. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/05/28/colombia-completa-1-mes-deparalisacao-nacional-com-60-mortos-e-120-desaparecidos

SAMPAIO, Cristiane. Nova data de mobilização nacional pelo “Fora, Bolsonaro” será 19 de junho. 2021. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/06/02/nova-data-de-mobilizacao-nacional-pelofora-bolsonaro-sera-19-de-junho

 

 

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