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Arte, frustação, Galinha Preta e o Nirvana. Não era Não.

Arte, frustação, Galinha Preta e o Nirvana. Não era Não.
Celso J.
jan. 20 - 3 min de leitura
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         Ser famoso, desejo de infância de Nicolas, sonhava que um dia seria admirado, chamado de mestre, seu nome escrito nos livros de história como um grande criador, um herói.

Trabalhou, estudou, evitou amigos, eram perca de tempo. Focou no que era importante, incansável.  Esforço inútil, o brilho se escondia, tudo  era superficial.
Piscou, o tempo passou, aniversário de 50 anos. Solidão. Levantou da cama cedo, sentou-se na mesinha velha que sempre tomava  café.

"Forte"

Respirou fundo e como um filme passando por sua mente, lembrou de algumas criações antigas. Em quanto admirava suas memórias, vozes ferozes interromperam a contemplação. Suas análises reverberavam, o ensurdecia.
Se sentia um fracassado, todos esses anos e jamais tinha conseguido uma crítica positiva.
Tomou uma decisão, a mais importante da sua vida, chega de agradar. 
Colocou o incenso de mirra de um lado vinho do outro, fechou os olhos, se inspirou. Capas de criatividade iam aflorando, mas o desejo ainda estava lá, queria agradar, não sabia quem ou o que, mas disso precisava se livrar. Irritado pegou a mesa e jogou ela para o lado. Ainda ofegante caminhou até a estante, pegou o jornal do dia anterior e foi direto à ultima folha, um quadrado em destaque: Pai de santo Seu Zé.

Um pacto decidiu fazer, acendeu vela, matou galinha, tomou  banho de cachaça. 

No dia seguinte, não podia acreditar, era outra pessoa, um copo vazio esperando para ser cheio de luzes e ideias, não se importava com nada, não julgava, impulsos criativos passavam livres por seu corpo, era uma máquina sendo usada pelas musas, sua arte era pura, frenesi sem apego, a obra em si já bastava. 

Em quanto criava teve um sonho lucido, viu seu próprio corpo no alto de uma montanha, olhou para baixo e viu a fama, elogios, dinheiro e poder. Sorriu com desdém, nada disso importava, contemplou o horizonte. O tempo deixou de existir. Estava inteiramente vivendo o presente da criação.

Algo bateu forte na janela interrompendo o transe. Levantou  rápido do susto de voltar para o mundo, real? seu desgastado e sedentário corpo pediu trégua, sentiu seu joelho estralar, o coração deixar de soar. Olhou assustado em direção a janela, um pássaro morto, partes de seus órgãos ainda grudados no vidro deslizavam deixando um rastro de sangue, Nicolas se aproximou, lápis na mão, cigarro na outra. Um trago profundo. Calmo. Destravou a janela,  o resto do corpo do animal  em suas mãos. Aplausos ressoaram pelo quarto, depois do silencio, só o eco do seu corpo no chão.
 

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