Te vejo ali dormindo ao sol com todo seu ser grandioso preso em meio ao confinamento das barras de metal de um pequeno recinto.
Quantas vezes me vi como você: presa em meio as paredes de concreto que me cercavam ao longo de muitas horas do meu dia. Quantas vezes me vi bebendo de uma pequena fonte de sabedoria e de esperança. Quantas vezes achei que o sol era para poucos, quando na verdade era para todos.
Vejo que as ferrugens das suas barras de metal se assemelham as trincas das paredes grossas que me cercavam e percebo que é uma questão de tempo até que ambas caiam e o mundo, pouco a pouco, se torne imenso e incontável ao meus e aos teus olhos.
Minhas paredes começaram a ruir em meio caos do isolamento, em meio as reflexões e ao silêncio do mundo. Renasceu, em meio a um rugido criativo, uma nova artista.
Um mundo novo, mais colorido, com linhas, pensamentos alucinantes movimentos atentos e a força dos teus olhos brotaram em mim e pela primeira vez, em muito tempo, entendi que a arte é grande como você, linda bela e impossível de perder a essência aos olhos daqueles que vivem e lutam por ela.
Sei que o pouco que lhe prende são as barras velhas e enferrujadas, mas sei que seus pensamentos vão ao longe e que lembram você dos dias vivendo à sombra das árvores, sentindo o sol e as águas frias dos rios sob suas patas, sentindo a adrenalina de marcar as terras com as longas passadas firmes perseguindo seu destino.
A ferocidade e a selvageria das cores brotaram como um lapso, uma visão e a imponência do rugido selvagem da inspiração. Aos que olham, a dor e a serenidade imposta de um grande felino preso. Para quem sente, o céu não é o limite, as passadas e corridas em meio a mata da inspiração não são nada, apenas o seu habitat natural: a criação.
Com você aprendi que a sabedoria, o ensino e a arte são como o sol: para todos, pois basta se aproximar, sentir o calor e encarar de frente aquilo tudo que de melhor podemos aprender e ensinar. Olhar fixo e perseguição ao destino, com passadas firmes e longas e no momento certo: o bote certeiro em uma vida livre, cheia de esperança e sem as poucas fontes de sabedoria, apenas a abundância de um mundo inteiro.
Texto e foto produzidos por: Kamila Souto. Fotografia tirada em: Bosque dos Jequitibas - Campinas SP