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A festa da carne (Fabrício Manca)

A festa da carne  (Fabrício Manca)
Fabrício Manca de Souza
jul. 6 - 2 min de leitura
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A festa da carne

Deixem descer os blocos de todos os morros,
As marchas, os enredos, como súplicas de socorro
Reverberarem nas bocas dos foliões esquecidos.
Deixem encher as avenidas de arlequins tortos,
Colombinas tísicas, e que a bateria dos mortos
Marque o compasso da ala dos desfalecidos.

Num buraco sujo a passista vela o mestre vala
E à frente o carro fúnebre alegórico embala
Sem cadência, a ala desesperadora dos coveiros.
E o sambista na decomposição do seu enredo
Inflama no refrão, abandono, descaso, medo...
Num grito póstumo de milhares de brasileiros

E é mister que esta imunidade de rebanho,
Imunize de razão o gado engasgado de ranho
No abadá da ignorância deste elétrico biênio.
Numa pipoca desorganizada, vil e elitista,
Onde não cabem os milhares fora desta lista,
Que morrem por falta de dignidade e oxigênio.

Na aglomeração dos corpos postos nas calçadas,
Os sacos pretos fantasiam a nova velha guarda
Na contramão do bloco dos desmascarados.
Ah! Pudera tantos, inda que fosse por simbiose,
Compartilharem a primeira, a segunda dose
E amanhecerem vivos na quarta-feira vacinados.


Mas jogam confetes de barbáries ditas amiúde 
E serpentinas de ofensas aos foliões da saúde,
Tão exaustos! O negacionista vem e esculhamba,
Orgulhoso em ver a morte posta na avenida, 
Reduz à festa tudo aquilo que um dia foste vida
Em nome do Presidente da sua escola de samba.

Faze então, Oh! Terra de Santa Cruz, uma matinê
E deixe-os usarem tudo que exploraram de você,
Para confeccionarem a mais hedionda das fantasias,
Para que sambem nas ruas de sua pele machucada 
E na apoteose triunfal das carreatas desgraçadas
 "Deus acima de todos" seja a mais triste das heresias.

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