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O menino do Barril

O menino do Barril
Pulmão da Cuesta
mai. 16 - 4 min de leitura
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Quem já achava a vida do personagem Chaves,  de Roberto Bõlanos difícil por não ter família e viver dentro de um barril , não esperava por essa: em Campinas(SP), dia 30 de janeiro, foi encontrada uma criança nua, acorrentada nos pés e nas mãos dentro do latão, que era coberto por uma telha Brasilit e uma pia de mármore. Um pano colorido de chão ajudava a tirar o sol do rosto dele. Ele não comia, não ia à escola e lá mesmo fazia suas necessidades fisiológicas. Quando questionado o motivo dele estar lá, ele disse que era porque pegava algumas coisas para comer, sem a permissão do pai. 

Após semanas nas mídias, outro caso de violência revigorou o assunto, agora com o garoto Henry Borel, de apenas 4 anos, que foi levado dia 8 de março pela mãe e pelo padrasto ao hospital, já sem vida. O que aconteceu? Pelas lesões apresentadas, ele foi brutalmente espancado em casa. 

Ambos os casos, divulgados nos canais de televisão e nas redes sociais, levantam as mesmas questões: o castigo físico como forma de punição.

A desculpa para a violência sempre é a mesma: a criança está sendo castigada por suas ações; logo, a conclusão que se chega é que a criança mereceu a punição.

É que, antes de qualquer coisa, castigar fisicamente é uma questão de herança de conduta. Numa sociedade em que a maioria das pessoas são contra a Lei que proíbe o castigo físico à criança e adolescente, atestando que essa medida tira o direito de educar o próprio filho, como não credibilizar a boa marca de uma surra. 

Mas quem ousa interpelar uma mãe ou pai descarregando sua ira no filho? Interferir numa educação de um pai é sempre muito arriscado. Afinal, a Lei do Menino Bernardo para ser aprovada, demorou 11 anos e, ainda, sofreu inúmeras redações e vetos. 

Para quem não se lembra, Bernardo Boldrini, de 11 anos, foi assassinado em abril de 2014, com uma injeção letal pelo pai (médico) e pela madrasta (enfermeira) e enterrado numa cova rasa. Alguns meses antes de morrer, a criança procurou a assistência social, isso mesmo, o menino procurou a assistência social para falar sobre os abusos sofridos dentro de casa.

É como se alguém dissesse que quem não sabe o que uma vara de goiaba, um chinelo e um bom cinto com fivela podem fazer na pele, não está preparado para a civilizada liberdade.

Nesse sentido, o pior de todos, é que levar uma surra é uma maneira de aprender alguma coisa. Quem não apanhou ou sofreu castigos emocionais, pulou talvez, uma etapa na fase de aprendizagem.

Pelo patamar da evolução, em breve teremos que ter isso no currículo: “Levei surra de fio elétrico de 8 polegadas”. “Fiquei sem jantar porque falei um palavrão”. Pela lógica, quem mais apanhou na infância, menos errará. E assim, o emprego será dele!

Esperamos sempre um bom senso nisso e, mesmo sabendo que muitos não o possuem, damos-lhes o direito de aplicar como punição, a boa e velha palmada. 

Até quando vamos deixar de lado o fato de que a humanidade não precisa de castigo físico para melhorar? Quantos filhos sobreviverão aos castigos consentidos? A violência doméstica sofrida por crianças que não podem aprender sem apanhar, consequentemente criará crianças que também acreditam nisso.

Quem apanhou e sobreviveu quando criança, se justifica credibilitando as correções como aprendizado. E quando crescer justificará o seu ato criminoso, promovendo o mesmo ato em seus filhos. Assim se passaram e passam gerações em que as palavras deixam espaço para a prosopopeia de “interface sensorial não verbal”, como consta na Lei que fecha os olhos para uma covardia autorizada por Lei!

Texto: Renata Campagner

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