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VAI QUE...

Vladimir Ferrari
dez. 12 - 6 min de leitura
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“Um milhão de trabalhadores, trabalhando por nada. É melhor você dar a eles o que merecem. Nós temos que te derrubar. Quando chegarmos na cidade, cantando o poder para o povo” John Lennon – Power to the People VAI QUE... Duas postagens chamaram minha atenção nesse fim de semana. Uma delas dizia que “dezembro é um mês cabuloso: você pisca e lá se vão R$ 100”. E a segunda, diz respeito ao poder. O “Power to the People”, cantado por Lennon é uma ilusão. E aqui no Brasil, temos dois exemplos bem clássicos dessa ilusão. O primeiro diz respeito aos diversos estudos pelo mundo dando conta de que, ao promover o porte de armas e rechaçar o estatuto do desarmamento, um governo promove o empoderamento da população, diante da liberdade promovida pelo dito estatuto, aos infratores da lei. Um infrator se entendia mais capaz de cometer os delitos que julgasse convenientes à sua sobrevivência, ao não encontrar resistência armada à invasão de propriedade ou à violação dos direitos individuais. Com a volta do “Power to the People”, um infrator pensaria duas vezes antes de cometer um delito. E nesse ponto, acreditava-se que a queda da criminalidade seria algo natural. Mas, não é isso que discuto aqui. O segundo exemplo clássico, é a propaganda em torno do slogan “o povo vai voltar a comer picanha”. A ilusão, nesse caso, exige um pouco mais de discernimento (prerrogativa difícil nesses nossos dias). Alimentos que não dependem de safra, dificilmente apresentam redução de preço. Nunca vi, ao menos e conversando com um açougueiro, tive essa confirmação. O que se pretende, ou pretendia, era o aumento do poder aquisitivo dos salários e a consequente tranquilidade em se adicionar uma peça de carne ao carrinho. Também não discorro sobre o custo de vida. A ilusão do poder é o tema. Saint-Exupéry cunhou a frase: “tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas”. O princípio da ilusão de poder é o mesmo, no meu entendimento. Ao recebermos o poder, na verdade, nos tornamos cativos. Somos conduzidos a uma situação em que nossas ações, a partir dessa “aquisição de poder”, veem-se atreladas às consequências da manutenção do novo status. É natural ao brasileiro, brigar eternamente com seu “Contas a Pagar”. Não há — e será preciso muita disciplina e trabalho árduo — educação financeira suficiente para a maioria do povo entender que é extremamente necessário não gastar mais do que se ganha. E sabemos que comprar gêneros alimentícios básicos é complicado para a maioria. Não há educação básica para entender o que é certo e errado no dia a dia e, ter uma arma em casa, nem sempre é garantia desse entendimento. Há coisas muito mais urgentes e preciosas para obter no dia a dia, que não carecem de uma atitude desse tipo. Se houvesse educação de qualidade nas escolas e saúde de qualidade nos hospitais, o respeito às leis e a disciplina civil seriam muito mais simples de se implementar. O poder apresenta outra face no Brasil: a abjeta. Nossos escolhidos para exercê-lo, em sua maioria, desprezam as consequências. Rejeitam a máxima de Saint-Exupéry e desembaraçam-se das responsabilidades. Resumem sua atuação em um simples: vejo o meu e o resto foda-se! Antes de 1985, o General Figueiredo avisava: “Ok, anistia. Vocês verão a merda que isso vai dar!” O resultado é que não tínhamos um corpo político capaz de compreender o poder que lhe era repassado. E não tínhamos uma população capaz de constatar isso. Negócios espúrios eram praticados não nos porões, mas à luz-do-dia, nos corredores do Congresso Nacional, sem pudor. Mas, um alerta: era natural. Quando não se tem preparo para respeitar a “coisa pública”, adquirir “Power to the People” (my ass), é direcionado unicamente para isso: o abuso das consequências e a falta de responsabilidade. Um post me levou a pensar em tudo isso: “o Gênio (vejam bem, GÊNIO) da lâmpada era o ser mais poderoso no universo do clássico ‘Aladdin’ no entanto, vivia preso em uma garrafa” (obrigado a @isvpompeu). Ian Pompeu cita no post, que o verdadeiro poder é “dominar os desejos desordenados por meio de virtudes e buscar o conhecimento das próprias ações da realidade e de como manuseá-la”. Um exemplo de como somos desnorteados e exercemos a ignorância com maestria, é a revolta absurda dos torcedores dos times de futebol, muito bem criticada pelo ex-jogador e atual técnico do Esporte Clube Bahia, Rogério Ceni: “se tivéssemos a indignação que demonstramos com os maus resultados de nosso time, voltada para a fome, a corrupção, a falta de saneamento básico, a falta de condições de saúde, aos desmandos e abuso de nossos políticos, esse país seria muito melhor para se viver.” No meio de tantas mentes iludidas por um ex-Beatle gritando por um megafone no meio da rua, após tantos anos, foi revelador para mim, descobrir duas ou três frases e fazer as associações necessárias a verdadeira compreensão. O “Power to the People” é uma ilusão, na verdade, porque já está aí. O que falta é admitir esse poder. É direcionar a indignação para coisas que realmente importam. Utópico, mas, vai que...


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