Já pensou?
Já pensou?
Se um viajante do tempo
ou um exterminador do futuro voltasse
tão absurdamente no passado,
ao ponto de conseguir pegar Deus
com a mão na massa?
Rebocando de barro,
formando o primeiro ser humano.
Que absurdo seria.
O que afinal diria,
ou mudo restaria, Deus,
recapitulando todo o futuro, então
o que faria?
O Beijo
Para o bem do universo, eu te deixo este beijo.
Encoste o teu queixo ao meu queixo,
e fiquemos assim, como se nada mais significasse...
Ou restasse... no mundo, além de nós.
Olho a olho, vejo o universo se expandir no brilho dos teus olhos.
Tudo se avultando e colapsando dentro de mim,
onde é preciso e urgente fechar meus olhos.
E numa explosão colossal, o universo,
um novo e extraordinário, é de novo feito,
lábios a lábios, num beijo.
De quem é o poema?
O fato é que um poema nunca é do poeta.
Nunca, jamais, vi um poeta saber recitar o próprio poema.
O poeta não sabe exatamente explicar o seu poema.
Nem sabe explicar o que acontece com o leitor quando este lê o seu poema.
Ele, o poeta, diz:
“Para o feito não há explicação. Para o bem ou para o mal. ”
E Borges já dizia que quem ler
- e eu digo mais: independente de entender o contexto -
se apodera do texto e ponto final.
(do volume "Qualquer Possível Infinito e outros poemas")