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Três Escritos

Três Escritos
Aleksandro F. de Paula
ago. 26 - 4 min de leitura
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I - Onde reside o espírito

O nosso espírito é algo tão transcendente, extraordinário e divino que é possível modificá-lo apenas com uma módica intervenção cirúrgica ou a ingestão de um medicamento. Saiba que o seu caráter, sua índole, sua inteligência é mais uma questão neurológica que ter uma essência anímica evoluída. Você ser uma pessoa inteligente não significa que a sua essência anímica tenha nascido há de dez mil anos, como diz o poeta; entende-se apenas e tão somente que as conexões de seu cérebro são bem ativas, e que um fator externo simples pode muito facilmente desativar. 
 Hoje sei apenas que, quando morrer, a minha consciência se apagará como a chama de uma vela, para nunca mais.
 Isso há algum tempo me angustiava, hoje apenas me consola de muitas coisas...


II - Se o conhecimento fosse algo realmente instigante a todos 


Já imaginaram a que patamar de avanço civilizatório chegaríamos se o conhecimento fosse algo realmente instigante a todos? Que o mesmo grau de curiosidade encontrada na criança se mantivesse no jovem e no adulto. A busca do conhecimento e da evolução não estivesse fadada a um grupo restrito de curiosos ou cientistas. Fosse algo essencial como tomar água ou alimentar-se fisiologicamente, ninguém sobreviveria sem. Haveria clínicas de "SPA" para o excesso de conhecimento em nossos cérebros ávidos. Onde a boçalidade seria a medicação, exceção e não o lugar-comum, a ser tomada. Doses diárias de programas de auditórios de TV aberta, "canções" das mais bizarras de tão ruins. Leitura seria apenas revistas de fofoca ou subliteraturas. Tendo essa subcultura o objetivo mesmo de se exorcizar do excesso de saber. Depois, da estada na clínica, a libertação total e absurda para o que nos ofereceria o saber quase supremo, que nunca alcançaríamos, evidente. Mas aí é que estaria a grande mágica da vida, a coisa realmente instigante a se perseguir e a viver.

III - Criador e Criatura

Temos a tendência ao endeusamento dos seres e de coisas inanimadas. Essa foi a tônica que guiou, inclusive, todo o nosso desenvolvimento como civilização. Nietzsche afirmava isso, sobre sermos os criadores de deuses, ao tentarmos dar feições humanas ao que não entendíamos e temíamos. Nasceu, assim, o humano com superpoderes, o nosso criador.
            Eu, particularmente, sempre tentei ser contrário a isso. 
         Não a essa questão nietzschiana em especial. Mas essa coisa de mitificar demais até o outro humano. 
          Poderíamos, inclusive, elencar um zilhão de problemas causados por isso. Do próprio ser humano acreditar-se excepcional e encontrar um monte de outros que o apoie nisso. Não coloco nem a questão religiosa, que seriam outros quinhentos. 
       A admiração sempre deve existir, tenho inclusive figuras míticas que eu ficaria nessa espécie de choque emocional que muitos se colocam. E, inclusive, já são pessoas mortas. Porém, jamais deveremos vê-las como algo que vai além do humano. Algo que nos faça ficar embasbacados e tudo mais. Todos nós somos capazes de grandes coisas. Quase sempre, a diferença que existe entre as pessoas é a(s) prioridade(s) que elas colocam em sua vida.
    Ademais, eu costumo dizer que a obra, invariavelmente, pode ou deve ser sempre maior que o seu criador.


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