As pessoas que encontrávamos no inverno não conheciam o seu cabelo, não sabiam que seus cabelos eram encaracolados em milhares de caracóis, entrelaçados, densos tal qual uma floresta tropical para ácaros, se convergindo para um pequeno cerrado no topo da nuca. Não sabiam que pela manhã seu cabelo acordava amassado, desnorteado com caracóis em nós, apertados em laços embaraçados.
Esses laços, caracóis e nós, se abrigavam do vento gelado do Norte, ou do Sul, em meus nós, e laços de lã. Exposto a esse mundo frio, cruzei ruas estreitas e gélidas, misturei minhas linhas com padrões inéditos de neve, subi montanhas de gelo, deslizei em rios sólidos e frígidos.
De cima, o vi buscando refúgio em vinhos, rodopiei tantas vezes em lugares esfumaçados, chamusquei meus fios por estar tão perto do fogo, carreguei em minhas linhas, fios de outros cabelos. O mesmo cheiro do corpo era o de meus cordéis.
Éramos assim até o inverno ir-se, ou até retornamos às terras brasílicas. Então, voltava ao meu lugar, a remoer fios passados do tempo.
Esperando a costura de fios futuros.