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OS PERIGOS DO WEBNAMORO

OS PERIGOS DO WEBNAMORO
Camila Mossi
jul. 25 - 4 min de leitura
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Dos maiores perigos que uma pessoa solteira passa na atualidade – indevidamente menosprezado por todos – são os perigos do webnamoro. Nos primórdios da internet ninguém tinha webcam e as chances eram 10/10 da foto do contatinho ser fake. As pessoas, que gostam de se iludir, realmente acreditavam que haviam encontrado uma sósia da Juliana Paes na sala de bate-papo uol e, sem o acessório para vídeo chamadas, a relação, vejam só, precisava ser baseada na confiança. Já ouvi histórias de jovens rapazes que namoraram por meses a mocinha de suas vidas que também jogava Tíbia e, quando finalmente juntaram trocados o suficiente para irem ao encontro de seu grande amor, descobriram - após muito descabelamento de palhaço - que a mocinha era outro adolescente nerd espinhento. Um pequeno deslize e anos de terapia.

As salas de bate-papo, o ICQ e o MSN com seus avatares em baixíssima resolução mal deixavam você diferenciar a foto do sua webnamorada de uma 3x4 da Xuxa. Ah, os perigos do web namoro! Daí, quando você finalmente marcava de encontrá-la pessoalmente, a sua Xuxa tava muito mais para o Tiririca em sua fase artística. Você fica em dúvida em abraçar a cidadã - com a qual trocou luxuriosos poemas de amor, confidências e juras – ou se sai correndo. Você abraça a moça e, sem querer, começa a cantar Florentina de Jesus. O saldo é a moça de coração partido e você traumatizado. Culpa da tekpix, sem dúvida.

Mas o tempo passou e a tecnologia melhorou: as webcams desenvolveram um zoom superpotente, as câmeras digitais são melhores que muitos binóculos e, apesar de eleger um presidente com base nos grupos de zap, ninguém mais é burro o suficiente pra um namoro EAD sem evidências fortes da existência do arroba. Mas os perigos do webnamoro são como um vírus, em plena mutação para destruir a nossa vida. Vencidos os problemas de falsidade ideológica dos fakes e das fakenews das fotos pixeladas, nós não estavámos vacinados para o porvir: os famigerados aplicativos de namoro.

Seus desenvolvedores estão realmente empenhados em fazer os encalhados encontrarem o amor. Há uma infinidade de aplicativos para colaborar com o mais nobre dos sentimentos e dar aquela forcinha para o cupido. Parecia uma boa para mim, que estava com quase trinta e solteira. Já não tinha mais aquela disposição para as baladas, minhas amigas todas casadas em seus apartamentos da MRV - Por que não tinder? Não tenho nada a perder - Olhei para a criptografia de ponta a ponta e toda a complexidade dos algoritmos, as etapas de segurança e validação estão melhores que nunca, toda a web está focada em coibir comportamentos abusivos, evitar fraudes e traumas, pensei: finalmente, vencemos o perigo do web namoro.

Nada, realmente evidência nenhuma, me prepararam para o momento que eu iria dar match com a mocinha no Tinder e, após conversas bem mais tórridas de que eu gostaria, receber a fatídica mensagem: – Você não lembra de mim, né, Mossi? Você é amiga da minha tia, rsrsrsrs.

A vontade foi de jogar o celular no rio e mudar de cidade, mas me contive a implorar para que ela não vaze meus nudes.

Ah, os perigos do webnamoro.


Camila Mossi
Ilustração: It's popping.

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