Em uma de minhas incomodas insônias, daquelas noites que deixam um gosto ruim nos lábios, repensei acerca da obra filosófica “O Mito de Sísifo” de Albert Camus. E mais uma vez me deparei com questões relevantes ao ser humano: se vale a pena viver diante do vazio que essa existência apresenta, o absurdo que é suportar este mundo e a diferença entre conhecimento e sabedoria.
Com uma ironia cortante, o escritor indaga se nesse mar de torpezas não seria um caminho viável o suicídio, um método aparentemente eficaz para se livrar dessas “pedras inúteis”. Entre as várias colocações que o argelino pontua, uma delas é o fato de sabemos diferenciar o conhecimento de sabedoria.
Eu posso conhecer milimetricamente os aspectos biológicos que compõem um limão, ser douto cientificamente no assunto. Mas senão souber através de uma prática/vivência (a famosa sabedoria de vida) de como vou utilizá-lo de modo concreto em minha vida (a forma que posso ou não espremê-los para fazer uma limonada) tal informação teorética de nada vale.
Aí está a importância da distinção entre sabedoria e conhecimento - algo que prezo muito por alcançar e que são muitas vezes provocações de minha parte aos filósofos extremamente lógicos. O relevante nesse vácuo existencial é a descoberta do sofrimento, dos nossos limites, desse absurdo que é viver.
E nessa “pobreza” abrirmos espaço para criarmos os nossos valores, as ações que amenizam esse peso e que sirvam como combustível para levar “o fardo” adiante. Camus nos relata que perante seus cacos, o homem pode escolher como se posicionar diante dessa dificílima situação. É ter o poder de decidir como enfrentará seu sofrimento e ajudar aos que estão ao seu lado.
Tudo isso aprendido através da contingência das experiências, do erro e do acerto do dia a dia – viver acima de tudo antes de teorizar. Sendo assim, o ato do suicídio é inútil porque não “existe nada lá fora”. Mesmo perante o vácuo existencial oferecido pela frieza do cosmos universal, a vida humana deve ser guiada a encontrar uma finalidade (por mais subjetiva e imprecisa que seja o sentido criado). Ante a situação adversa se deve analisar as oportunidades que esta situação propicia e desenvolver uma valoração que a tudo suporte. É mais vantajoso extrair prazeres e intensas experiências na vida terrena do aqui e agora.
09.11.2020