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O Universo de Mary Shelley: Frankenstein e seus possíveis derivados

O Universo de Mary Shelley: Frankenstein e seus possíveis derivados
Ademir Pascale
out. 11 - 10 min de leitura
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NO INÍCIO ERA PROMETEU

Poderemos comparar o Dr. Victor Frankenstein ao titã grego Prometeu, que apoderou-se do fogo divino de Zeus, outorgando aos homens comuns a evolução perante aos outros animais e assim como o ser supremo, também gozava da criação humana. Furioso, devido ao roubo do fogo divino, Zeus castigou Prometeu e o acorrentou ao cume do monte Cáucaso, dando livre arbítrio para um terrível abutre dilacerar o seu fígado que sempre se regenerava, devido a sua imortalidade. Zeus pronunciou o castigo a Prometeu por 30.000 anos, mas, o condenado foi libertado por Hércules que deixou em seu lugar o deus da medicina, o centauro Quíron, pois este já estava condenado devido a uma ferida eterna causada por uma flecha terrivelmente envenenada. 

Em uma atitude nobre, Quíron transfere sua imortalidade pela libertação de Prometeu, com a intenção de acabar com o seu sofrimento devido a dor da ferida eterna que possuía.

Mary Wollstonecraft Shelley (1797-1851) a autora da obra "Frankenstein", inspirou-se na lenda de Prometeu. O título da obra era “Frankenstein” ou “O Moderno Prometeu”. Levantei uma conjectura demais interessante: e se Mary Shelley não for a real autora, criadora da obra "Frankenstein"? Estive analisando o conteúdo da obra "Frankenstein" e ligando alguns fatos interessantes.

Mary Shelley

VAMOS AOS FATOS   

Antes de apresentar os fatos, gostaria de fazer um breve comentário a respeito do poeta inglês, Percy Bysshe Shelley (1792-1822). Percy era casado com Harriet Westbrook e ao mesmo tempo, namorado de Mary Wollstonecraft. Um triste dia, Harriet descobriu a traição e, claro, não aceitou. Impulsivamente, ou quem sabe num gesto de desespero, Percy abandona a esposa gestante e foge com Mary para o continente. Dois anos depois do ocorrido, mais precisamente em 1816, Harriet ainda não conformada com a traição, suicida-se e, sabendo da tragédia, Percy não perde tempo e se casa com Mary. 

PRIMEIRO FATO: na trama "Frankenstein", o pai da horrenda criatura, Victor Frankenstein, era ridicularizado pelos mestres de sua universidade, devido ao grande interesse pela Alquimia, considerada ultrapassada em sua época. Na vida real, o poeta Percy, esposo de Mary, foi expulso da faculdade de Oxford depois de publicar um panfleto sobre a necessidade do ateísmo (doutrina dos ateus. Falta de crença em Deus). Percy arruinou sua carreira acadêmica, mas defendeu suas ideias.  Note a semelhança neste fato entre o personagem Victor Frankenstein e Percy Bysshe Shelley. 

SEGUNDO FATO: o suicídio da primeira esposa do poeta Percy, Harriet. Quando amamos alguém que se vai, não pensamos como seria bom a eternidade da vida humana e às vezes não ficamos descrentes no ser supremo? Na obra "Frankenstein", Victor Frankenstein não teve a terrível ideia de dar vida a um ser inanimado depois da morte de sua mãe? 

TERCEIRO FATO: Percy tinha ideias não convencionais. Uma grande prova deste fato é a admiração pelo autor William Godwin (1756-1836), também possuidor de ideias não convencionais e pai de sua segunda esposa, Mary, além de ter sido expulso da universidade por defender o ateísmo, ideia que ia contra os conceitos da universidade de Oxford. Para a época, a obra "Frankenstein", não seria uma obra não convencional? 

QUARTO FATO: a autora Mary Shelley escreveu cerca de trinta obras, mas somente  “Frankenstein”, fez o estrondoso sucesso.

QUINTO E ÚLTIMO FATO: Percy morre aos 29 anos por afogamento em julho de 1822. Sua esposa Mary Shelley passou a se responsabilizar pela publicação de suas obras.

MINHAS CONCLUSÕES: não seria Percy Bysshe Shelley o real autor da obra "Frankenstein"? A primeira publicação de apenas 500 exemplares foi publicada em 01 de janeiro de 1818 em uma pequena editora de Londres e grande detalhe, a obra não continha o nome do autor. O prefácio da obra foi redigido pelo próprio Percy B. Shelley.

Um ano depois da morte de Percy, em 1823, a segunda edição de Frankenstein é publicada, mas desta vez com o nome da autora, Mary Shelley. 

Percy B. Shelley

Não seria o verdadeiro pai da criatura, do desfigurado ser infernal, Percy B. Shelley? Liguei estes fatos ao pesquisar a vida do poeta Percy, da escritora Mary Shelley e do anarquista filosófico, William Godwin (pai de Mary Shelley). As ligações da obra "Frankenstein" com a vida real de Percy B. Shelley, são imensuráveis. Não existiu o desprendimento do autor com a obra, o qual relatou suas ideias pessoais e íntimas em relação ao ateísmo e em trazer a vida aos falecidos, além do marcante fato de sua expulsão na universidade de Oxford, bater com o terrível tratamento dado pelos professores em relação as suas ideias sobre alquimia do personagem “Victor Frankenstein”. Dificilmente eu acreditaria que fosse Mary Shelley a autora da obra "Frankenstein" depois de correlacionar tais fatos, mas saliento que não deixam de ser conjecturas. Não seria as personagens Victor Frankenstein e a própria criatura o alterego de Percy B. Shelley? Será que não se sentira culpado pelo suicídio de sua primeira esposa, Harriet, comprovando a criação do criador e criatura como uma metáfora? Note que na obra, o monstro sempre está próximo ao seu criador, mas por mais que se esforçasse o pai da besta nunca conseguia alcançá-lo. Seria um sentimento profundo de culpa que Percy sentia pela morte de sua ex-esposa, algo irrevogável e inalcançável, pois ela jamais retornaria a vida. 

FRANKENSTEIN OU APENAS “CRIATURA”?

Sim, apenas criatura. Este era um dos nomes do monstro, ou se preferir “demônio”, “ser infernal” ou simplesmente “desgraçado”. Frankenstein era o sobrenome de seu criador, Victor Frankenstein. O autor da obra não deu nome ao monstro. Talvez o fato de soar estranhamente o nome “criatura”, deu-se o sobrenome do criador e nada mais justo dar o sobrenome do pai ao filho. 

O nome Frankenstein, originou-se de uma importante família da Silésia. Importante porque se deu o nome "Frankenstein" a uma antiga cidade hoje chamada de Zabkowice Slaskie (a Silésia é uma região histórica dividida entre a Polônia, República Checa e Alemanha). Dizem que Mary Shelley conheceu a família “Frankenstein” em uma de suas viagens, mas provavelmente Percy B. Shelley a acompanhava.

AS ADAPTAÇÕES DA OBRA FRANKENSTEIN

Frankenstein está entre as primeiras obras góticas da história. A primeira foi publicada em 1764, intitulada "O Castelo de Otranto", de Horace Walpole (1717-1797). A obra “Frankenstein” é estruturada em romance epistolar, o realismo da história é indescritível e deveras emocionante. Além da inspiração da lenda de Prometeu, o autor (ou autora) da obra “Frankenstein”, também foi inspirado pela obra do autor e representante do classicismo inglês, John Milton (1608-1674). A obra é intitulada “Paradise Lost”. A segunda obra de Milton foi intitulada de "Paraíso Reconquistado", dando sequência ao primeiro livro. 

Trecho de Paradise Lost, traduzido por Antônio José de Lima Leitão (1787-1856).

(...)

“Inferno! Inferno! Que painel terrível

Meus olhos miserandos presenciam!

Em nossa estância habitam criaturas

De outro molde, talvez de terra feitas,

Que, não sendo anjos, só diferem pouco

Dos celestes espíritos brilhantes.

Os meus maravilhados pensamentos

Nelas se engolfam todos: té me sinto

Propenso a amá-las, — tanto lhes fulgura

A semelhança divinal no porte,

E tantas graças nos gentis semblantes

A mão que as construiu pródiga esparze!

Ah! par formoso! Mal agora pensas

Na mudança que perto já te assalta:

Esses prazeres todos vão sumir-se,

E desgraça tremenda lhes sucede

Tanto mais crua quanto sentes hoje

Alegria maior nos seios d’alma.

És feliz, mas durar assim não podes

Porque bem defender-te o Céu não soube; (...)

A obra “Frankenstein” é deveras trabalhada e inspiradora, mas, para alguns, com falhas: Victor Frankenstein junta pedaços humanos e os molda, tentando reconstituir a sua maneira a figura de um ser humano, mas, ao final do processo, após tortuosos estudos, noites em claro e alterações em sua saúde — decorrentes do excesso de trabalho —, o ser inanimado torna-se animado e assim como Percy B. Shelley abandona a esposa gestante, Victor abandona sua obra, ou se preferir, criatura.  

Frankenstein foi inicialmente alterado nas telas do cinema como um ser não tão “pensante”, ao contrário da filosófica criatura da obra de Mary Shelley ou Percy B. Shelley, que é culto e rápido como o relâmpago, “bem” diferente do conhecido Frankenstein do mundo da sétima arte, se bem que alguns diretores tentaram posteriormente modificá-lo, e hoje poderemos notar várias adaptações dele, algumas até cômicas, como no longa-metragem de 1974 “O Jovem Frankenstein” (Young Frankenstein/ 104 min/ 20th Century Fox Film Corporation).

Os leitores também se deleitavam com as adaptações de Frankenstein em quadrinhos, muitas das vezes herói, outras vilão.

O teatro também adaptou a obra e foi o primeiro a gozar de tal feito. Por fim, notamos adaptações de Frankenstein até em jogos futuristas para modernas plataformas de videogames. 

Frankenstein jamais morrerá, assim como os imortais deuses da mitologia, infelizmente, para desespero de Victor Frankenstein, que perdeu a vida tentando destruir o monstro.

ALGUNS POSSÍVEIS DERIVADOS DA CRIATURA DE FRANKENSTEIN:

O Incrível Hulk - Edwards mãos de tesoura - A Noiva Cadáver - Monstro do Pântano e O Médico e o Monstro.

Série "O Incrível  Hulk"

Nota: devemos temer o anormal e o estranho? Afinal, o que é ser normal? É seguir um padrão? Será que nos importamos mais com o visual do que com o conteúdo? Se Frankenstein fosse compreendido pelos humanos, a obra teria um trágico final? Se na vida real compreendermos o que está fora dos nossos padrões visuais, a vida humana não será mais harmoniosa?                   

 

 

 


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