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O Intelectual Aburguesado Chamado Leandro Karnal

O Intelectual Aburguesado Chamado Leandro Karnal
Dennis De Oliveira Santos
dez. 5 - 3 min de leitura
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Sempre desconfiei dos posicionamentos políticos de Leandro Karnal. Um intelectualzinho pop ao ter a mídia lhe oferecendo muita atenção, todos os holofotes em cima de seus discursos e o mesmo não gostando de se assumir como marxista. O que sempre desconfiava? Esse acadêmico tem toda essa repercussão porque há alguma vantagem por parte das elites em lhe oferecer “voz midiática” ou até uma ligação entre ambos em interesses sociais. Sempre afirmava isso quando questionavam-me a respeito e evitava compartilhar suas ideias em redes sociais.

Lembro-me de uma discussão no local de trabalho, na qual colegas de profissão deslumbrados com a palestra do historiador em discussão teciam elogios excessivos aos talentos e posicionamentos defendidos pelo mesmo. E eu, no decorrer da acalorada conversa, sempre destilava um ceticismo e colocava em xeque o fato de Karnal nunca ter se posicionado de modo mais incisivo acerca do processo de dissolução dos preceitos democráticos/constitucionais do país.

O professor da Universidade de Campinas descreve as bases sociais da corrupção brasileira (nada de novidade teórica para quem leu Sergio Buarque de Holanda), mas evita estabelecer um vínculo direto desse assunto com os partidos políticos enlambuzados no poder. Parece-me que o mesmo pretende fazer certas discussões importantes para a reflexão de nossa sociedade, mas evitando posicionamentos mais incisivos. Sua fala pausada, ponderada demonstra o fato de que ele pretende ser “light” - cita os problemas sociais sem “dar nome aos bois”.

Como não se compromete com nenhum lado politicamente falando, torna-se um dócil intelectual das elites porque não se contrapõe aos seus interesses. Portanto, o docente universitário aparecer agora numa foto ao lado do juiz Sergio Moro (o paladino justiceiro dos grupos dominantes) falando sobre a possibilidade de projetos entre os dois, em nada me surpreende.

Aprendam com Gramsci a ideia do intelectual orgânico: se o sujeito não estiver tanto nas ideias como nas práxis totalmente ligado aos menos favorecidos, ele é um mero acadêmico a serviço das elites. Ele não é como Paulo Freire e Florestan Fernandes - que tinham uma preocupação real e vivencia concreta com os oprimidos.

Precisamos de intelectuais no país que, além de problematizarem nossos dramas sociais, evitem uma “neutralidade ideológica”, a qual estará a serviço dos grupos dominantes. Ao invés do aburguesamento do intelectual faz-se necessário em tempos politicamente tão conturbados que nossos acadêmicos levantem a bandeira dos de baixo, de modo a oferecer conceitos teóricos à classe dominada para sua emancipação. Buscar a finalidade de desmontar a atual farsa democrática e destruição de direitos constitucionais que trucidam o modo de vida dos mais humildes. Em nossas universidades e para além de seus muros precisamos cada vez menos de pessoas como Karnal e mais mentes como Florestan Fernandes, Paulo Freire, Darcy Ribeiro e Caio Prado Jr.

11.03.2017



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