Acabo de chegar da Esplanada dos Ministérios desapontado com o resultado de um processo de deposição governamental que não seguiu os ritos democráticos legais, mas de cabeça erguida e coerente com meus valores de justiça social. Não estava ali por uma mera disputa partidária (até porque não sou petista, sou de esquerda), mas sim por não compactuar com uma retórica evasiva e espúria que destituíram em tempos passados governos que tinham projetos desenvolvimentistas e de correção das desigualdades sociais (nosso maior problema). Não queria me calar diante de um momento factício de nossa história e permitir o que houve com Goulart – presidente que trazendo ascensão social às classes subalternas foi destituído a força e de forma irracional de seu poder legitimamente conquistado.
Infelizmente o ciclo da história vai se repetindo, mais uma vez para conter os avanços da classe trabalhadora. Estava ali, à noite, de vermelho, com a bandeira do país em nome dos negros que hoje estudam em universidades públicas. Estava ali em nome dos índios que lutam pela posse de suas terras contra o agronegócio. Em nome da população carente que hoje tem a sua casa própria. Em nome da criação de universidades públicas e cursos técnicos para os jovens. Em nome da soberania nacional contra o vil aniquilamento neoliberal de nossos serviços e riquezas públicas. Em nome dos gays que hoje tem o direito de se casarem. E tudo isso não é uma mera posição ideológica fruto de um “esquerdopata”, mas sim um princípio da nossa própria Carta Magna, a qual tem o objetivo de construir uma sociedade civilizada, democrática e socialmente justa através da diminuição das desigualdades sociais e regionais.
Os direitos conquistados incluem o máximo de pessoas, principalmente os marginalizados. E não um ato de excluir como muitos moralistas/conservadoras julgam com a “santa” benção de um Jesus que se existir deverá está com vergonha de seu nome indevidamente ter sido usado num espaço laico. Os oposicionistas dizem que após o impeachment haverá uma trégua política. Difícil acreditar nessa possibilidade quando falta legitimidade aos que serão “eleitos” pela manobra, quando se sabe que o cancro corrupção emana em maior escala do nosso Poder Legislativo.
As elites financeiras, políticas e midiáticas irão trabalhar para retirar vários direitos trabalhistas conquistados duramente no processo de redemocratização do país – empresas de telefonia minando o acesso a internet, flexibilização do trabalho, menos investimentos públicos em programas sociais, etc. A perda para o povo que se segue é bastante temerosa. Saio desse evento sabendo que a elite venceu, mas sereno e coerente ao saber que “combati o bom combate” contra quem e aquilo que é contra o meu povo e país.
17.04.2016