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O discípulo vence o mestre

O discípulo vence o mestre
Aleksandro F. de Paula
ago. 27 - 2 min de leitura
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O mestre interpelou o discípulo:
- Você concorda, pequeno aprendiz, que o que existiu uma vez sempre existirá?
- Concordo, mestre.
- Então me cite um exemplo, pequeno aprendiz.
- A nossa própria existência, mestre. 
- Sim, continue...
- Sabemos por dois vieses que não morreremos jamais, apenas nos transformaremos.
- E quais são eles?
- O da religião e o da ciência.
- Explique.
- A ciência diz que somos poeira de estrelas, a religião complementa que viemos do pó e ao pó retornaremos.
            - Mas, pequeno aprendiz, você acredita realmente que sou apenas essa matéria que vos fala. Se eu me atirar daqui, desse precipício, o que você encontrará lá embaixo ainda continuará sendo este seu mestre?
- Não entendo, mestre, onde o senhor deseja chegar.
             - Do pó ao pó. A matéria pertence à matéria. Somos, entretanto, mais que simples matéria. A minha consciência existe. Quando ela não mais pertencer à matéria que lhe prende, onde ela continuará existindo? Se você mesmo acordou que o que existiu sempre existirá.
            O discípulo disse que sim, que sendo assim, assim seria. E então se calou.
A tarde já ia cedendo espaço a escuridão quando ele resolveu acender a lamparina. E uma ideia como a chama acesa lhe acedeu. Levou a lamparina até ao superior e disse:
             - Mestre, vês esta chama?
             - Sim, isso é tão claro tanto quanto ela pode iluminar.
             - Então a chama existe?
            De repente o mestre se calou.
            O discípulo compreendeu que chegara onde quisera. Mesmo assim continuou:
           - A chama existe e sempre existirá. Então para onde ela irá quando eu a apagar agora. – e apagou...

           - Irá onde for preciso aplacar outra escuridão - respondeu o mestre.
            - Mas não será a pequena chama desta lamparina.
           - Então a reacenda, pequeno aprendiz, pois os mosquitos já estão consumindo esta pequena matéria que ainda sustenta esta chama inconformada.

 

(do volume: "A Criação do Temor e outros contos")


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