Quando minha irmã mais velha
estava com os seus dezesseis anos, ganhou um diário. Em princípio achei que
fora um presente tolo. Quem em sã consciência iria escrever segredinhos e
outras coisinhas mais em um caderno? Entretanto, aquela capa dura, cheia de
cores femininas, começou a tomar forma em minha mente de menina, sempre que me
distanciava do tal objeto.
Logo que ela retornava das aulas
noturnas, trancava-se no quarto e se atirava na cama, pondo-se a escrever
naquelas pequenas páginas coisas que só ela sabia. Esse ato aguçava meu
instinto. O que tanto ela tinha para segredar a ele?
Esperava, ansiosa, que ela
deixasse a casa apenas para eu manusear o tal caderno nas mãos e me frustrar
com o minúsculo cadeado que continha suas confidências. O impeditivo que
causava curiosidade, distanciando a verdade confessa naquelas páginas, era o
motivador das estórias inventadas por mim para poder saná-la.
Esse jogo de deduções durou algum
tempo, até que ela esqueceu o pequenino cadeado, não tão seguro quanto ela
pensava, aberto. Você deve estar pensando: Será que a irmã bisbilhoteira leu?
Sim. Confesso! Mas não contei a ela e nem a ninguém sobre o conteúdo. Porém,
denunciada por algo que até hoje não sei, ela descobriu meu delito e o pequeno
diário ficou esquecido, aprisionado no canto do quarto até ser jogado fora.
Você deve estar pensado: “Mas o
que isso tem a ver com a forma “como a literatura mudou minha vida””? Creio que
tudo. Aquele diário, que tanto chamou minha atenção, tomou-me de curiosidade e
a necessidade de mergulhar naquelas páginas e em outras, fez-se uma constante
em minha vida. A partir desse fato, passei a “devorar” livros e a me “jogar” em
mundos fantásticos, sentindo-me cada vez mais ansiosa e apaixonada por tantos
mistérios escondidos nas palavras escritas. Esse gosto pela leitura resultou na
minha biblioteca particular que, com muito orgulho, digo que há mais de mil e
quinhentos livros em suas estantes. Ler
sempre foi uma das minhas grandes paixões, até perceber que eu também podia criar
minhas estórias.
A verdade é que cada livro que
lemos ou escrevemos não deixa de ser o diário de alguém. Creio que é nisso que
está a beleza da escrita. Nem sempre são “causos”, contos ou romances sobre
algo que aconteceu de verdade, mas sim, algo que poderia muito bem acontecer e
que é passado adiante, sem as amarras de um minúsculo cadeado a tolher
pensamentos, sonhos e fantasias. Precisamos acreditar que, através de um
“fazedor de estórias”, estamos aprendendo, ensinando e passando adiante
entretenimento, conhecimento, a cultura de um povo, romance, risos e choros que
chegam a um coração aventureiro.
Minha professora de literatura
vivia dizendo que quem não LÊ mal sabe, pouco fala e nada vê. Como a senhora
estava certa, Dona Catarina! Desejo a todos que estão lendo essas humildes
considerações, que compartilhem cada vez mais e mais leituras e pequenos
escritos que façam a diferença na vida dos leitores.
Aproveito e peço que pensem: O
que você contaria ao seu "diário" que fizesse alguém sentir a necessidade de
abrir um minúsculo cadeado?