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Narrativas de um sonho

Narrativas de um sonho
Vinicius Lima
dez. 27 - 5 min de leitura
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Não consigo conceber que 2020 chegou ao fim. Um ano em que tínhamos começado com altas expectativas, sem muitas preocupações e, de uma hora para outra, tudo se transformou em uma tempestade pandêmica sem previsão para acabar - não foi nada agradável os sentimentos e as emoções que a Covid-19 trouxe para mim.

Entretanto, por outro lado, o meu objetivo aqui é trazer um pouco das histórias vividas entre os meses de setembro e dezembro por uma equipe sensacional e um grupo de 80 crianças do Território do Bem - região compreendida por 9 bairros em situação de vulnerabilidade social localizados em Vitória/ES: bairro da Penha, São Benedito, Jaburu, Floresta, Bonfim, Engenharia, Consolação, Gurigica e Itararé.

Tudo começou quando vi a divulgação sobre um programa de voluntariado no Instagram em uma página chamada @educacaoparaobem. O programa propunha monitorias individualizadas para alunos de escolas públicas afetados pelas consequências da evasão escolar e da dificuldade na gestão educacional pelo governo no contexto de pandemia. 

Como eu estava há um longo tempo dentro de casa, resolvi participar e tentar ajudar a quem realmente precisava. Contudo, o que eu não sabia era que aquela decisão iria mudar por completo a minha vida.

O propósito era relativamente simples: diminuir o abismo existente (e que se acentuou ainda mais em 2020) entre a educação básica pública e privada a partir de monitorias individualizadas ao vivo para as crianças residentes nas comunidades do Território do Bem.

E como isso foi possível? Uma parceria foi formada para a realização conjunta do projeto entre o @coletivobeco e a @educacaoparaobem. Nesse contexto, o primeiro foi responsável por estabelecer a relação com os alunos e com a comunidade e o segundo foi responsável pela relação com os monitores e gestão pedagógica. Além disso, empresas locais apoiaram a iniciativa com a doação de computadores, acessórios, mesas, cadeiras de escritório, internet, etc. para a estruturação completa do espaço físico.

Graças à dedicação e ao empenho da equipe foi possível colocar tudo em movimento. Todo o processo foi bastante desafiador para todos, afinal, os monitores são basicamente alunos recém-formados ou em fase de graduação. Dessa forma, faltava experiência pedagógica e de pessoal para gerenciar todo o processo com atenção a todas as medidas de biossegurança necessárias.

Durante a execução do projeto adotamos um modelo híbrido no qual as crianças participavam das monitorias individualizadas ao vivo e também haviam oficinas temáticas com enfoque na pedagogia de projetos.

Na primeira as crianças eram divididas em grupos de 4 para cada horário, sendo aproximadamente 3 ou 4 horários por dia de segunda a sexta-feira. Do outro lado da tela, estavam os voluntários de várias partes do Brasil, empenhados em não só em ajudar com assuntos escolares, mas também em transformar a visão de mundo desses jovens.

Logo de início, ao fazermos as “análises diagnósticas” - avaliações de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para identificar os pontos que precisavam de atenção. Assim conseguimos definir melhor os rumos que deveriam ser tomados. 

Percebemos que cerca de 25% das crianças precisavam de auxílio em alfabetização e que a grande maioria precisava de ajuda com matérias de anos anteriores aos seus respectivos anos (evidenciando mais uma vez o contraste absurdo entre as escolas municipais/estaduais e as privadas).

Assim, impulsionados por uma imensa vontade de ajudar, a nossa missão foi trazer os familiares para perto do processo e tornar o processo de aprendizagem o mais interessante possível e com foco total nos alunos. Foi um desafio e tanto!

O contato entre indivíduos de classes e regiões tão diversas também foi fantástico, a diversidade se fez viva e muito aprendizado surgiu a partir desta aparente curta experiência.

Na semana das crianças (12 a 18/10) fizemos a nossa primeira oficina de artes e roda de diálogo. Lá tivemos nossa primeira interatividade presencial e abordamos sobre as nossas perspectivas sobre projeto de vida e fizemos trabalhos artísticos - todos acompanhados por profissionais da área.

Fizemos também uma incrível oficina de natal, onde os voluntários do projeto doaram brinquedos para as crianças, foram feitas brincadeiras para acolhimento e ainda teve a participação de um dentista ensinando sobre higiene bucal com iniciativas lúdicas e ativas.

 

Enfim, este foi o relato da experiência que me trouxe de volta para a realidade, bem no finalzinho de 2020. Em um ano de várias tragédias, perdas e muito estresse; Conseguimos fazer alguma diferença na vida de um pequeno grupo de crianças. Pode parecer pouco, eu sei, porém para mim teve muito significado e valor a oportunidade de trazer de volta os sonhos e o brilho natural nos olhos daquelas crianças.

É extraordinária a alegria que eles compartilharam conosco neste curto espaço de tempo. Vou levar essa experiência pro resto da vida!


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