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Quanto Tempo o Tempo Tem?

Quanto Tempo o Tempo Tem?
Romeu Waier
jul. 30 - 8 min de leitura
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Autor: Romeu Waier 

 

Achávamos que sempre tínhamos mais tempo. Mais tempo para gastar, mais tempo para chorar, mais tempo para assistir televisão, mais tempo para comer, mais tempo para beber, mais tempo para brigar, mais tempo para poluir, mais tempo para respirar. Mas esquecemos de quanto tempo o tempo tem. Assim nos encontramos no grande relógio da natureza que está em contagem regressiva.

Acabamos perdendo a consciência sobre oque é realmente viver, e isso é muito mais cruel do que não ter sabedoria sobre o próprio tempo. Nos esquecemos que somos humanos e nos comportamos como criaturas sem consciência destruindo tudo à nossa volta. Deixamos entrar a ignorância e da apatia se fez nossa casa. Criaturas com potências latentes de virtudes como justiça, integridade, coletividade, sustentabilidade, arte e filosofia! Permitindo-se ser manipulados pelo canto da sereia, o mesmo que os antigos gregos chamavam de gênio maligno.

Por achar que somos feitos apenas por desejos imediatos acabamos por nos tornar em si produtos e assim fazemos da nossa casa um órgão e da nossa vida parasitismo. Grandes atributos tem a grande mãe terra que empresta seu corpo para fazermos nossa morada. Falamos sobre estabilidade, ecologia e paz mundial como se fosse uma escolha, mas acredite, não é, tudo se encaminha a piorar se caso não tomemos as rédeas do poder. Iniciasse com a morte das abelhas, depois para pequenos animais e quando menos perceber estaremos sendo uma nova colmeia em extinção. Cuidar de Gaia não é uma escolha, é uma condição de sobrevivência da raça humana. 


 

Quando era criança costumava não entender as horas do relógio, até hoje, entre devaneios e sobressaltos costumo perder um segundo aqui, um minuto ali, uma hora acolá. Mas entre tantos ponteiros, milésimos de segundos me reencontro aqui. Os meses escorregaram entre meus dedos mais rápido que as publicações intermináveis das redes sociais. Nesse momento minha diversão não está em mim, e nem poderia se encontrar linear no momento caótico que vivo.

Cronos senhor do tempo que se ergue entre os gigantes e devora todos seus filhos. Nós, filhos do tempo, somos devorados lentamente sem sentir os dentes nos dilacerando. É como um sapo em banho Maria, quando menos se espera a água borbulha e das bolhas o sensível corpo vira aperitivo sem espírito ou vida. Afinal quanto tempo o tempo tem?

 

Se o tempo fosse um elemento certamente seria a água que em sua glória sustenta a terra e frutifica a vida. Essas  mesmas águas que ouso me aventurar, coloco em minha mala de viagens meus sonhos e expectativas, avante!  Adentro me encaminho ao grande barco e se inicia a jornada ao Mar aberto. Vá para o norte, siga as estrelas, confie nas águas, olhe para a lua, a natureza te guiará.

Mas entre embalos e sustos, ouvimos novamente a predestinação inevitável do tempo, o canto mais belo, a melodia mais hipnotizante que emerge das ondas. O canto da sereia que é derramado ao meu ouvido e com planos estratégicos tenta adentrar meu coração e dominar minha mente. Bela criatura de inimagináveis poderes sedutores. Nesses segundos profanos vejo muitos dos meus companheiros de viagem se lançarem ao mar.

Me mantenho firme olhando para a lua confiando meu destino às estrelas, abrindo meu peito a natureza, a mesma que me mantém seguro no convés do barco. Percebo que minha mala me arrasta ao mar com a força de mil homens, como uma legião, todos meus pertences se tornam âncoras me puxando junto a maré suicida de dois mil homens.

O vento aumenta, minha liberdade está em jogo, o norte se torna cada vez mais nublado. Em um último suspiro quando todo meu corpo já estava imerso…Resolvi escolher a vida e no mesmo momento que todo meu pulmão se enche de agua, três mil mãos descem dos céus como se a lua projetasse seus cabelos ao meu espírito, que como um abraço do afogado sou colocado no colo da mãe suprema  que me carrega novamente para a grande máquina flutuante. Estou vestindo apenas pele, ossos e pelos pois me reencontro no útero, no grande templo sagrado, salvo pela grande Deusa. 


 

Um novo bioma está sendo proposto pelo inevitável destino, onde somos meros visitantes. A Grande Mãe nos deu tempo suficiente para evoluir em determinados momentos da história, e a cada ano ela reforça seus anticorpos. Quem escolheu ouvir é chamado de Bruxa. Nós a guiamos e reverenciamos porque sabemos que devemos nos adequar a natureza e não dominá-la, porque ela é perfeita. Dominar a si mesmo não é destruir Gaia. Passamos muitos anos sendo como um grande bebe que nunca cresce, parasitando entre os ciclos naturais que ela propunha. 

 

Através dos olhos entre as máscaras brancas consigo ver sua alma, acreditávamos que conseguimos nos esconder pelos personagens sociais criados para um sistema que suga o planeta terra diariamente. Um dia somos o  filho, mãe, namorado, marido, cunhado, inimigo e amigo. Mas no fim, oque sobra além dos nossos olhos saltando como quem espia por cima de um muro furtivamente? A única espécie capaz de reverter o mal que nós próprios causamos.

Esvazie-se do seu narcisismo, seu corpo precisa ser preenchido por algo além da tua ignorância.  Quando eu me sirvo dos outros me aprisiono em mim. Quando me ofereço como um banquete para que todos me devorem me liberto da minha própria carne, consciência e espirito. Viver no final do mundo consiste em ser devorado diariamente, se não, nos tornamos animais. Assim como os corvos que desciam dos ombros de Odin para elevar as almas dos homens mortos em campo de batalha, os devorando , somos convidados a nos elevar através da antropofagia divina. 

Em um mundo de sobrevivência não há espaço para a transcendência. Então seja o fator de modificação desse estado deplorável que nos encontramos. Ofereça ao mundo algo além da rotina de sobrevivência. 

Estou aqui para ver os parasitas se  trancarem  em suas casas e ter medo de sair, e por ironia é o momento que mais desejamos ver a natureza. Antes era nós quem trancavam as portas para o sol, fechava as janelas para a chuva e silenciava os pássaros. Vejo então a natureza dando seu retorno triunfante! Como em um ato de restaurar sua independência,  ela nos coloca exatamente onde escolhemos estar. Nos obrigando a provar da nossa coletividade, será que seríamos capazes de nos unir? 

Se o  mundo adoecer nós adoecemos juntos, somos parasitas! Nos alimentamos de nossa mãe desde o peito. Ser mãe é ter que se apagar diariamente da própria existência enquanto seus filhos comem suas entranhas. Achamos que sair de casa faria a casa sair de você. Achávamos desde o início que éramos filhos de Nossa Senhora Aparecida, aquela submissa a quem todos sugam, se alimentam e ainda pedem para salvar de nossos pecados. Hoje! Nesse momento! Descobrimos que somos os filhos de Medeia. Afinal, Quanto tempo o tempo tem? 

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