Autor: Kywan L. S. de Freitas Lopes
Estamos no início de uma década marcante para a história da humanidade. Até o dia 23 de maio de 2021, foram registradas 3.477.777 mortes por covid-19, no mundo. A cada minuto, cerca de 9 crianças morrem, no mundo, por desnutrição. Em janeiro de 2021, 12,8% dos brasileiros estavam em situação de extrema pobreza e esta taxa tende a aumentar. De acordo com o INPE, somente na Amazônia legal brasileira foram desmatados 11.088 km² entre 01 de agosto de 2019 e 31 de julho de 2020, o que representa um aumento de 9,5% quando comparado com o ano anterior. Com o desmatamento exacerbado a qualidade do solo, o clima, o abastecimento hídrico, a vida da fauna e da flora estão ameaçados. Contudo, esse novo decênio não traz apenas acontecimentos tristes da década passada, nele se comemora o centenário de Milton Santos. Mas o que Milton Santos tem a ver com as questões mencionadas anteriormente?
Milton Santos nasceu em Brotas, Macaúbas-BA, no dia 03 de maio de 1926. Graduou-se em Direito, mas sempre lecionou geografia. Foi preso durante a ditadura militar e depois de sua soltura trabalhou em universidades dos Estados Unidos, Tanzânia, Canadá, África e Venezuela. Retornando ao Brasil, em 1977, foi professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro e na Faculdade de Geografia da USP. Ao longo da vida, Milton recebeu importantes prêmios nacionais e internacionais, entre estes está o prêmio Vatrin Lud (1994), uma espécie de Prêmio Nobel da Geografia.
Milton Santos faleceu em São Paulo, no dia 24 de junho de 2001. Todavia nos deixou uma vasta e rica coletânea de 30 livros e 400 artigos científicos, como por exemplo, “O trabalho do geógrafo no Terceiro Mundo” (1978), “A pobreza urbana”(1978), “Economia espacial: críticas e alternativas”(1978), “A urbanização desigual: a especificidade do fenômeno urbano em países subdesenvolvidos” (1980) e “Metamorfose do espaço habitado” (1988). Contudo, hoje queremos ressaltar o livro “ Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal”.
O livro “ Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal” teve a sua primeira publicação no ano de 2000 e, assim como a maioria dos trabalhos de Milton Santos, trata-se de uma crítica ao sistema capitalista, mas precisamente à forma que acontece a globalização.
De acordo com RODRIGUES, OLIVEIRA & FREITAS, a globalização é um processo heterogêneo, isto é, envolve fenômenos de caráter político, social, econômico e cultural. Uma prova de que vivemos em uma época globalizada é que podemos estar em qualquer lugar do globo sem sair de casa. O processo de globalização ganhou impulso no final da década de 80 com “a expansão das empresas transnacionais, a internacionalização do capital financeiro, a descentralização dos processos produtivos, a revolução da informática e das telecomunicações”.(ALVAREZ,1999, p. 97)
Milton Santos dividiu o livro “Por uma nova globalização” em três partes. A primeira mostra a globalização como fábula. Nela é falado sobre “o processo de criação e instalação nos espaços nacionais pelos Estados, que são os responsáveis pela construção de normas para a reprodução do capital no território, e as contradições existentes neste processo”(FARIAS, 2013). A segunda apresenta a globalização como perversidade, aborda “a violência do dinheiro e da informação na busca da mais-valia universal” (FARIAS, 2013).
Já na terceira parte, Milton Santos discursa sobre como a globalização pode ser. Nela Santos fala que o processo de globalização pode ser revertido e que a informação e o capital podem e devem ser utilizados para possibilitar o acesso a cultura, a minimização da violência e das desigualdades sociais e o desenvolvimento das cidades e da ciência, o que consequentemente afetaria o nosso padrão de consumo e mudaria a forma com que vemos o meio ambiente.
Referência:
ALVAREZ, Marcos César. Cidadania e direitos num mundo globalizado. Perspectivas, São Paulo, n. 22, 95-107, 1999.
Biografia do patrono Milton Santos. disponível em < biografia do patrono milton santos | secretaria municipal de cultura | prefeitura da cidade de são paulo > acessado em 04/05/2021
CANZIAN, Fernando. Brasil começa 2021 com mais miseráveis que há uma década. Disponível em < Brasil começa 2021 com mais miseráveis que há uma década - 30/01/2021 - Mercado - Folha (uol.com.br))> acessado em 04/05/2021
Covid-19 Coronavírus Pandemia. Disponível em < COVID Live Update: 167,506,682 Cases and 3,477,777 Deaths from the Coronavirus - Worldometer (worldometers.info) > acessado em 23/05/2021
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FARIAS, Cleilton Sampaio de. SANTOS, M. por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10. ed. rio de janeiro: record, 2003. 174 p. Disponível em < santos, m. por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10. ed. rio de janeiro: record, 2003. 174 p. | farias | revista de geografia (ufpe.br) > acessado em 04/05/2021.
INPE. Nota técnica: estimativa do PRODES 2020. Disponível em <NotaTecnica_Estimativa_PRODES_2020.pdf (inpe.br) > acessado em 04/05/2021
Livros. Disponível em < Milton Santos » Livros > acessado em 04/05/2021
Milton Santos. Disponível em < Milton Santos – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) > acessado em 04/05/2021.
RODRIGUES, Ana Maria da Silva; OLIVEIRA, Cristina M. V. Camilo de; FREITAS, Maria Cristina Vieira de. Globalização, cultura e sociedade da informação. Disponível em < globalizacao_e_cultura.pdf (ufrgs.br) > acessado em 18/05/2021.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10. ed. rio de janeiro: record, 2003.