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Meus queridos fantasmas

Meus queridos fantasmas
Diego Gianni
ago. 14 - 2 min de leitura
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Abro minha caixa de e-mails: "sua encomenda está a caminho". 

Sorrio, depois de muito tempo. Coloco minha máscara e vou para a calçada. São apenas alguns passos, mas sinto o coração acelerar. É um dia nublado, como muitas das minhas lembranças.  O furgão amarelo dobra a esquina e estaciona na minha frente.  Eu ainda sorrio, acho. O estranho de máscara amarela pega uma caixa do tamanho de uma criança e coloca aos meus pés. Eu assino o que ele quiser. E volto para minha toca.

Pego uma faca e abro a caixa com cuidado. Não quero machucá-lo. Seu rosto é como me lembro? Arranco as fitas adesivas que revestem o papelão grosso. Corto meu dedo e digo algo impublicável. Uma gota solitária de sangue mancha a caixa provisória do novo hóspede. Foi uma longa viagem para que ele chegasse até aqui. É a vida, terá que esperar um pouco mais. Vou até o banheiro e seguro um papel sobre o dedo. Olho para o espelho e vou longe um breve instante. Eu era um menino inseguro que odiava o próprio rosto. Era um mundo sem máscaras. 

Volto e abro a caixa. Por baixo de centenas de filetes de jornal com fragmentos de notícias que não servem mais, finalmente vejo seu rosto. Nós éramos amigos na minha infância, mas não lembro o que aconteceu entre nós. Eu o abraço.  Só então me lembro que ele pode estar infectado. Limpo bem o boneco com um pano e o levo para um lugar de destaque na estante, onde moram meus outros fantasmas.  

Pesquiso mais tarde onde posso encontrar um forte apache. É onde pretendo me esconder por um tempo, não ligo em ser um índio ou um cowboy. Luto para resgatar alguns pedaços do mundo de antes, embora eu saiba que as pessoas que perdi não irão descer de um furgão amarelo em frente à minha casa. 

Deito e fico olhando o teto. Lá fora, o mundo volta cada vez mais ao normal. Sem que eu me sinta normal. Tenho medo. Acho que nem tudo deveria voltar a ser o que era. 

Tento dormir. Na estante, o recém-chegado parece olhar para mim.

Viro o rosto, fugindo do meu presente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  


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