Tô começando a cogitar um quadro de agorafobia
Me sinto vigiada
De dentro do meu quarto, de dentro da minha mente e até de dentro do meu gorro
Tenho um contorcionista do Cirque Du Soleil no lugar do estômago
Eu não me sinto invisível
E sinceramente essa palavra me dá ânsia
Não faça do seu negacionismo a minha insignificância
Leitura social
Fenômeno territorial
Tubarôa pra quebrada
Marvônica pras bicha moema
É que eu só transo por tabela, e nunca fico recheada
Pra mim, todo corpo é hentai, linhas sem sentido que traçam gozos sem destino
Bato punheta pra goblins, unicórnios e eu-lírico's
Bissexualidade é minha verdade, minha palavra
A palavra que me levou à finais de slam
A palavra que pesou todas as vezes em que sofri assédio e abuso
Pesou quando amigas trans decidiram que eu não era mais vítima, mas "vitimista"
Seletividade define
Não é atoa que os compadre do Neymar acha feio bater em mulher, mas até topa estuprar um "da-cú" por bifobia
Ou o patriarcado só faz sentido quando a mãe dele namora um "viadinho"?
Cabo de vassoura no cu dos outros é Kisuco
Passa na TV, consome a internet e vocês continuam se fazendo de estúpidos
Sabia que mulher que transa com homem bi não pode doar sangue?
E a gente insiste em dizer que isso é uma cruz dos gays
Vai na onda deles mesmo
Sylvia Rivera já catava que as gay nunca soube o limite entre deboche e vaia
Vão lá fazer pegadinha no instagram pra ver sua mãe chorando de desgosto quando cê disser que virou hétero e engravidou uma racha
O que é, o que é?
Afeminada pra caralho e ainda trepa com mulher
Não entendeu?
A gente é a piada !
Mas Igor não era gay?
Antes disso eu já era saturada
Querem que eu sente na farinha enquanto decidem por mim quem eu devo ser ou deixar de ser
Guardam meu lugar no fim da arquibancada
Ana cláudia, sandália, sugar baby virada
Monamour, "GDC" é meu saco
Eu sou gilete de cabeça
Pega teu gaydar, enfia no cu e arranca pela indaca
A escala kinsey ficou no passado
Não tá morta, mas coitadinha, foi enterrada
Me chame de Jack Woolley, porque eu tô pronta pra levar a taça
Não precisa apertar minha mão, nunca sequer te chamei de "parça"
Se a comunidade é pra cis, considerem-se falecidos pra mim
Se o bajubá me apodrece, eu reinvento o pajubi
Meça suas palavras, que nelas sou manjada
O meu bonde é picadiva, boca de tracajara!
Tô pik Deadpool matando a Marvel
Dragonete desenfreada
Visibilidade não se pede, se rouba, se conquista na navalha!
Não se implora a esmola, se toma a rua como casa
Querem fazer revolução na base da guilhotina, mas tremem com a idéia de abrir os portões da cadeia
A gente tem cultura, eles têm culto
Hétero mete bala na nossa cabeça e ainda estupra o nosso defunto
Mas se perguntar por aí, vão dizer que bissexual é que fode com o mundo
Há uma tempestade à caminho, meus caros
E é melhor vocês, monossexuais, se prepararem
Pois quando ela chegar e vocês voltarem pro chão, vão se perguntar como puderam viver com tanta fama enquanto o resto de nós passava peixeira na garganta e deformava a própria cara por não se reconhecer no espelho, por não poder se nomear
Pois é, terminologia é política sim, jão
Toda ação sucede um discurso e todo discurso traz reação
"Bissexualidade" é minha palavra
E como boa poeta que sou, toda palavra é AK na minha mão