Nesses muitos meses de isolamento durante a quarentena, somente meu cão me faz companhia. Me sinto só, desamparada, angustiada, ansiosa, com medo. Medo da solidão, medo de não ter com que contar, medo de morrer sozinha aqui e ninguém procurar por mim por não sentir minha falta, medo de mim mesma, medo do próximo, medo daqui de dentro dessa casa, dessa casa de quatro paredes e da minha casa corpo-mente, do meu interior, medo de lá de fora. Evito contato, evito a rua, evito olhar ao redor, evito olhar pra dentro de mim mesma.
Tento ler um livro, na tentativa de me distrair um pouco, mas é em vão, não consigo me concentrar. Tenho ouvido umas vozes que sussurram levemente nos meus ouvidos coisas pesadas demais pra suportar. Ligo a TV, que mostra mil imagens multicoloridas de tristes realidades cinzentas. Doença, sofrimento, tristeza, solidão, fome, morte. E a fora isso, uma tentativa inútil de entretenimento hipócrita, que tenta, em vão, com sua alegria mascarada nos distrair da realidade cruel.
Não tenho conseguido dormir em paz há dias. Em meu quarto, deitada em minha cama, minha mente gira confusa, com os meus fantasmas interiores. Abro as janelas e grito: “Alguém aí quer café?!”, numa tentativa que alguém possa atender meu pedido e compartilhar comigo esse momento, nem que seja a distância. Julgam que eu esteja enlouquecendo. Começo a achar que sim, que estão certos.
Mas essa é a minha verdade, a minha vida real, aquela que acontece longe do que aparece nas redes sociais, a vida sem filtro. Essa é a realidade que faz com que eu lute todos os dias comigo mesma, e que, espero, não acabe me destruindo, e sim que venha a me fortalecer, que o Universo me conceda coragem para continuar mantendo, ainda que seja uma pequena centelha da esperança de continuar a trilhar os caminhos dessa vida, acreditando na bondade e na humanidade de cada pessoa, inclusive de mim mesma. Essa luta é diária, um ato de resistência. Sigamos!