É uma dor física: pedra no peito, embrulho no estômago, respiração curta e pesada. Rosto contraído, envelhecido. Mente turva, coberta de nuvens cinzas.
Assim acordei após constatar, mais uma vez, que o tratamento antiepiléptico não está funcionando. Minha filha tem 14 anos e, desde os cinco, crises convulsivas minam nosso sossego.
A cada nova medicação, esta fenda é tampada com altas doses de esperança. Por dias, semanas e até meses, o medo se encolhe. Sei, porém, que fica à espreita, pronto para dar o bote. E meu coração fica em suspenso a cada enjoo – sinal de possível desencadeamento para uma ausência ou convulsão.
Em busca de aplacar a sensação de impotência, peregrinamos em consultórios médicos e centros religiosos... Acendemos velas a todos os santos, diplomados ou etéreos.
Tantas fichas já usadas, sinto que há cada vez menos a ser feito, além da cirurgia no cérebro. Decisão que agora cabe a ela.
Participo de vários grupos de Epi e, claro, há casos infinitamente mais graves e complexos. Impossível, porém, não sentir a tristeza dessa limitação imposta. Nossa menina, tão responsável, simplesmente não pode ficar sozinha, nadar sem alguém olhando, sair de bicicleta sem ter o trajeto monitorado...!
(Ah, quando vejo jovens saudáveis com a vida escorrendo pelos dedos... Sério, que desperdício!)
Last but not least, é ela na foto. Com ou sem riscos, voa cada vez mais alto.