O que importa não é o ato em si.
O que importa são as circunstâncias que nos levaram a estar aqui,
neste instante,
o desejo que nos une de repente
e o que nos separa para sempre.
Eu te quero agora e pronto,
e vejo em ti, igual despropósito,
e o que importa tudo mais?
Tudo mais deixa de existir, a partir deste momento.
A partir deste momento o mundo nos pertence;
uma nova explosão espacial dá início a tudo,
inclusive, o deus que nos abençoa
ou que nos expulsará do seu convívio
e de nós mesmos.
O que importa, repito, o que importa,
se o instante ainda existe,
e tudo mais se perpetuará
como uma força se expandindo por toda a nossa vida;
se nos amaldiçoando
ou nos tornando mais vivo,
dependerá das circunstâncias que nos levaram a estar aqui,
a sermos assim,
tão esquivos e fracos
ante esta força toda que nos esmaga,
um no outro.
Mas o que menos importa é este ato em si;
essa energia que nos converge
será a mesma que nos distanciará
em caminhos dessemelhantes,
e o ato em si deixará de existir.
As circunstâncias,
que antes confluíram eu e você para este ponto,
específico, nos arremessará como meros mortais
para as convenções morais,
que nos restaurarão.
Como se não fosse possível um início para tudo,
para o universo existe uma linha reta,
infinita, apenas,
que nos perpassa neste indistinto segundo.
O que menos importa é esta massa toda de nossos corpos,
se o que nos arremata é algo tão diverso
e maior que nós mesmos.
(do volume "Nada mais e outros poemas")