- O bichinho, minha veia, estava lá, me atendendo, conversando bonito e atilado, quando chegou aquela diabinha com as pernonas bonitas, o olhar faceiro de quem sabe a desgracenca que pode fazer na vida de um homem. Aí, então, o bichinho ficou nervoso, cumade, só você vendo.
- Não precisa muito para imaginar, mulher.
- É safadeza deles não, cumade, é a natureza, é muito hormônio na cabeça. E a menina era uma belezura só, só vendo mesmo.
- E ainda tinha isso.
- Pois saiba que ele estava tomando a sua chicarazinha de café quente, que, avexado então para me despachar mais rápido, pensei, já que a conversa azedou.
- pow!,
- Derrubou o café quente nas pernas!
- Vixe Maria!
- O bichinho deu um pulo danado da cadeira. Ficou mais nervoso ainda. Aí, a danada vendo o mal que já tinha causado antes de causar, se mandou.
- Só podia.
- Só tu vendo o olhar dele, de pidão, vendo aquela desgracida saindo jeitosa pela porta.
- Parece que estou mesmo vendo.
- Daí, ele olhou para mim e me fuzilou com o olhar. Com aquele olhar... E correu para dentro para dar um jeito na calça e quando voltou nem vi. Já tinha também me arribado, cumade.
- Quem ia ficar?
- O quenturão do rabijo daquela sirigaita bonita ele sentiu foi no café quente mesmo.
- Deus sabe o que faz, cumade.
- Deve ter ficado com alguma seqüela da queimadura. Mas sabe lá o que teria acontecido se não fosse esse ocorrido.
(do volume "Objetos Mortais Inusitados e outros contos")