Meu pai foi torcedor do
Clube Atlético Ypiranga, nascido no ano de 1906 e três vezes vice-campeão
paulista, com sua camisa listrada em branco e preto. Quando o futebol do “Vovô
da Colina” se extinguiu, em 1959, o pai adotou o Clube Atlético Juventus como
time do coração, que leva o nome da “Vecchia Signora”, de Turim/Itália, e na
camisa o inconfundível grená, em homenagem ao Torino, outra equipe dessa
cidade.
Sempre achei que a
escolha de meu pai teria se dado pela sua origem italiana, mas, no dia que perguntei,
a sua resposta revelou um dos traços de sua personalidade: “todo mundo torce
para os grandes, temos que apoiar os pequenos”. E se tornou uma espécie de
torcedor símbolo; não perdia um jogo no Estádio Conde Rodolfo Crespi, na Rua
Javari, Mooca, tradicional reduto italiano de Sampa.
Quem conheceu a
história desse simpático time, sabe que, nos seus áureos tempos, levava a
alcunha de “Moleque Travesso”, porque costumava aprontar para cima dos grandes.
A cada molecagem meu pai ria e se deliciava. Não precisava ser campeão, mas
tinha que fazer travessuras...
Pois no dia três de
novembro de 1982 jogou Corinthians e Juventus no Estádio do Pacaembu. Eu e meu
pai para lá fomos. Embora o adversário fosse aquele timaço do Sócrates, Zenon,
Casagrande e cia. (aliás, campeão paulista naquele ano), acreditávamos que
veríamos mais uma travessura do moleque (e o Timão era vítima predileta); até
pedi para o pai maneirar na comemoração, pois estávamos em território “inimigo”,
eu, inclusive, com a camisa do alvinegro.
E nem bem começou a
peleja, aos 7 minutos, o “Doutor” vai lá e faz um gol, meu pai abaixa a cabeça,
mau presságio; o moleque frequentemente fazia um gol e se fechava, por isso a
famosa “retranca” do técnico Milton Buzetto caiu como uma luva nesse time. Aos
25 e 34 minutos, Zenon faz mais dois. No segundo tempo Ataliba (que veio
justamente do Juventus) e Casagrande fizeram mais um cada, e aos 44, Mário fez
um para a equipe grená com o J branco no peito, fechando o placar em 5 a 1.
Apesar de corintiano,
fiquei até chateado pelo meu pai, que saiu cabisbaixo. Qualquer um diria que deu o resultado
provável: o time grande goleando o pequeno. Mas, em se tratando de um moleque muito
travesso, naquela noite, sem fazer das suas travessuras, acabou dando zebra!