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Como a Literatura Mudou Minha Vida?

Como a Literatura Mudou Minha Vida?
Felipe Loureiro
set. 29 - 3 min de leitura
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Infância de pobre não é feliz, é que não adianta ser triste. Por isso, a gente segue caminhando. Tentar entender coisas tão complexas sem a maturidade necessária é inútil. Ser humilde não é uma qualidade, é uma circunstância. Dito isso, o que nos resta é sorrir ou morrer tentando.

Aos doze anos tudo mudou, cheguei ao ápice da minha vida. Jogava futebol na divisão de base do Botafogo e vivia o meu sonho, ser magro. Até que um “amigo” invejoso me ofereceu uma droga perigosamente viciante. Começou como uma brincadeira, até que me vi viciado. Engordei, fui colocado no banco de reservas, larguei o futebol e me entreguei ao vício.

Aos treze anos era um adolescente obeso. Rejeitado pelo Botafogo e por todas as meninas da rua, busquei conforto na televisão e no videogame. Por um tempo funcionou, mas faltava alguma coisa. A sensação de frustração e solidão não se aplacava. 

Num fim de semana qualquer, visitando a família do meu pai, fui convidado pelos meus primos para brincar na biblioteca do vovô. Entrei lá e não entendi a brincadeira. Nem liguei, comecei a olhar os livros, a folhear, a conhecer, até que uma obra me chamou atenção - “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada” de Pablo Neruda. 

Passeei por aquelas páginas como quem anda de bicicleta num lugar bonito. Até que um nome surgiu nos meus pensamentos, Maria Isabel. Em seguida chegou seu rosto, seu corpo que escapava ao uniforme e seus cabelos descontrolados. Senti inveja do poeta, porque se eu soubesse dizer as coisas que ele dizia, ela certamente não namoraria o Bruno F. Rodrigues.

Comecei a querer ser poeta e a escrever meus versos, mas as meninas da época não gostavam de poesia. Maria Isabel preferia os meninos magros e bonitos, independente de seus talentos e atributos. Dessa vez, quem surgiu em meus pensamentos foi Pablo Neruda, 一 Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Maria Isabel foi um vento de maio que bateu, derrubou umas folhas do meu caderno e foi soprar por outras bandas. A poesia ficou. Neruda trouxe seus amigos para a minha vida. Veio Fernando Pessoa que me mostrou que a literatura, tal como o amor, é uma companhia para quem já não sabe andar só pelos caminhos. Veio Drummond mostrando que o amor bate na Aorta e que muitas vezes resulta inútil. Vieram muitos outros mais.

A adolescência de pobre pode ser muito infeliz. A minha tinha tudo pra seguir nesse caminho. Porém, acompanhado dos meus livros, encontrei outras pistas para realizar uma trajetória mais leve e bonita. Hoje leio, escrevo e sofro. A literatura não me faz evitar as dores da vida, mas me ajuda a conseguir ver alguma beleza no que me acontece. 




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