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Como a Literatura mudou a minha vida – O infinito está nos livros

Como a Literatura mudou a minha vida –  O infinito está nos livros
Eunice Mendes do Nascimento
out. 24 - 7 min de leitura
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O INFINITO ESTÁ NOS LIVROS

Nasci pequenina, frágil e feinha de dar dó! Fui crescendo sem saber muito bem o porquê de ter vindo ao mundo, mas fui descobrindo isso aos pouquinhos... Aos dois anos, fui adotada por um casal que me salvou da miséria e da morte. Cheguei à casa deles com uma fralda e completamente desnutrida. Fui salva na primeira semana por um enorme cacho de bananas que me deu a vitamina necessária para a sobrevivência imediata. Quanta sorte eu tive!

Meu pai era um homem coberto de ternura e, desde cedo, me ensinou a gostar das palavras. Lia muito para mim, lindas histórias de fadas, princesas, dragões, príncipes e duendes. Ele dizia que as palavras eram mágicas: tinham sabor, tinham som, tinham cores... Ouvi-lo era de uma alegria tamanha, que comecei, quando já alfabetizada, a também gostar de ler. Tinha uma biblioteca em casa e eu lia de tudo. Criei, já adolescente, um ritual: quando chegava em uma passagem importante de um livro, marcava a folha, fechava e só voltava a ler pelo menos uma hora depois. Durante esse espaço de tempo, eu me deleitava pensando o que será que o capítulo me traria de surpresa.

Eu fazia uma metáfora: gostava demais de uvas verdes e gordas. Então, depois dessa uma hora eu imaginava que a volta à leitura iria me permitir a sensação de degustar uvas suculentas cujo suco se derramava em minha boca. Uma hora para esperar as minhas uvas especiais. Uma hora para esperar as surpresas dos livros. Puro deleite! Como eu era muito tímida, a leitura me cedeu espaços para que eu pudesse me desenvolver. Foi quando comecei a me abrir para a vida e a ter coragem para interagir com as pessoas. Meu pai dizia: “Coragem não é não ter medo. Coragem é caminhar apesar do medo”.

Quando eu estava na oitava série, aconteceu algo que me levou ao autoconhecimento. Um dia, ouvi o barulho de um caminhão. Era um caminhão de mudança. Vi sair dele, além dos móveis, caixas e mais caixas de livros. Eram meus novos vizinhos que tinham uma menininha de uns 12 anos. Fiquei curiosíssima para saber que livros eram aqueles, quem eram aquelas pessoas tão ricas, a ponto de terem montanhas de livros? A casa ficava em frente à minha, e era a mais bonita da rua! Aos poucos fui me enturmando com a pequena vizinha, que se tornou minha primeira amiga de infância.

Um dia eu pedi para ela: “Você pode me mostrar os livros que você tem?”. Ela me pegou pela mão e me levou até a sala. Um ambiente enorme com vários bichos de pelúcia que a mãe dela fazia para enfeitar a casa. Em uma das paredes da sala eu vi... eu vi a biblioteca gigante, carregada de muitos livros: vários tamanhos, cores, títulos e mais títulos. Não tinha um espacinho sequer naquelas prateleiras cheias de histórias! Nunca tinha visto nada igual. Eu queria pular de alegria. Se a mãe dela deixasse, eu ficaria freguesa de tanto encantamento!

E a mãe dela deixou.... Aí, eu desandei a ir para aquela sala tão fresquinha e devorar quantos livros pudesse. Ficava lá a tarde toda, quietinha, nem me mexia pra ninguém prestar atenção em mim... Melhor ainda, a dona da casa oferecia lanchinho e tudo! Foi lá que li o Tesouro da Juventude e a coleção de Monteiro Lobato. Pesquisava os trabalhos da escola na enciclopédia Barsa e na Lello Universal. Achava o máximo aprender tantas coisas em tão pouco tempo!

Os anos foram passando, entre prosas e versos optei por fazer o curso Clássico, voltado para o mundo das letras, como eu queria... No curso, tive uma professora muito criativa que trazia para a sala exercícios diferenciados e, durante os três anos de curso, li e reli os grandes nomes da literatura brasileira: Machado de Assis, Jorge Amado, Clarice Lispector, entre tantos outros...

Todo esse manancial de conhecimento me salvou! Sim, a literatura me salvou! Por isso, decidi fazer faculdade de Letras e Pedagogia. Depois de formada, passei no concurso público e fui lecionar em escolas estaduais. Não tive qualquer dificuldade nessa caminhada. Sinto que nasci para ensinar e ensinava com todo prazer!

A literatura me trouxe ganhos incríveis. Eu me alicercei como cidadã e construí, dentro de mim, uma força que eu não sabia que tinha. Com isso, a minha timidez se evaporou no vento e meus medos ficaram presos no passado. Eu tinha escrito uma história de resiliência e afeto graças à bênção literária, que me abriu portas e janelas para outros sóis e para outras paisagens, como aconteceu com Alice no País das Maravilhas.

Assim como fez com o Pequeno Príncipe, a literatura me permitiu viagens pelo mundo, me levou a chorar de emoção por conseguir entender a mensagem de um autor. Aprendi que a comunicação com o outro precisa de um propósito para iluminar o diálogo. Aprendi que expressar pensamentos é algo extremamente importante para dar sentido à vida, facilitar o encontro com nosso semelhante e para a tomada de decisões. Tudo em nome da clareza e de um diálogo autêntico comigo mesma e com as pessoas.

Julia Kristeva disse que “falar é falar-se”. Esse processo e essa engenharia são facilitados e intermediados pela literatura. Benditos sejam os livros que desnudam novas terras e deixam rastros de esperança e luz na alma de todos os que se debruçam sobre eles em busca de si mesmos e de algo maior que o cotidiano. Bendita literatura que ajuda o ser humano a se tornar alguém melhor, mais saudável, sensível e livre como no Mundo de Sofia! Viva a liberdade de poder ler e nos salvar do ranço medíocre dos horizontes perdidos e não sonhados!

A literatura como necessidade humana de buscar o sentido da vida pode ser compreendida como A Odisseia, de Homero, na forma de palavras que entram e saem, feito cânticos poderosos contra o Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. São palavras que chegam Tecendo a manhã, como diz João Cabral de Melo Neto, ou, nas letras de Graciliano Ramos, unindo povos e transformando Vidas Secas em epopeias de heróis únicos e agentes do seu próprio amanhã.

No exercício de dar aulas, eu me construí e consegui ser respeitada como detentora desse saber. A literatura me deu chão, calor, fome de viver e a dignidade de descobrir o meu papel no mundo como a Ilha do Tesouro. Os livros penetraram na minha alma como se fossem sementes de felicidade, indicando jornadas que valem a compreensão da condição humana, descrita em detalhes pelo grande bardo inglês William Shakespeare, a quem devemos a dimensão divina dessa forma de arte.

O INFINITO ESTÁ NOS LIVROS!




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