Porto Alegre, 31 de março de 2020.
Você... Como vai, você? Eu sei que você vai rir. Quem escreve cartas em pleno 2020? Eu. Eu escrevo. Eu escrevi um livro a mão. Eu tenho um diário. Eu sou louca pra receber cartas na minha caixinha de correio. Mas, não você, você é o oposto de mim. Você tá achando isso um baita clichê, eu sei. Mas, eu tenho muito pra te dizer... ligação? Não. Não dá, não ia ter a mesma intensidade que eu preciso te passar, e como preciso. Ah, se eu pudesse abrir meu coraçãozinho todo, escancarar tudinho pra você, eu juro que faria. Ah, se a tecnologia já tivesse avançado o suficiente para que por meio de algum aparelhozinho você pudesse enxergar meus sentimentos só de olhar para mim. Chega de enrolação. Me desculpe. ME DESCULPE. Por favor... Eu fui aquilo que mais condenei a vida toda: covarde. Eu fui embora. Eu fui como um balão solto no ar, e você só queria me segurar pela pontinha do barbante. Só isso, né? Eu sinto muito. Eu te machuquei. Vi de longe o quanto éramos diferentes... Mas, deixei você se aproximar, me sentir, ter prazer, ter cor... Te dei um parque de diversões todinho, para depois dizer que a temporada naquela cidade havia acabado e que a próxima parada me aguardava. Você é terra firme e isso é lindo, mas eu sou o próprio ar. Eu não paro. Eu entro e saio das casas, dos lugares, só não dos corações... E você, você não merecia ser o primeiro a provar da minha insensatez. Me desculpe. Tô pedindo aos deuses para removerem suas dores. Eu te amo, mas não posso te dar a paz que você procura. Se eu fosse um oceano, você seria um barquinho buscando loucamente terra firme, porque tamanha agitação - ondas e tempestades - rapidamente te causaria enjoos. Eu sinto muito. A verdade é que escolhi seu sofrimento em vez do meu. Egoísta, eu sei. Mas, se serve de consolo, essa minha decisão nada resolveu. Com amor, eu.