São
Paulo, 25 de janeiro de 2050.
Quem
vos fala é alguém que já morou em diferentes casas na cidade de São Paulo e que
teve a possibilidade de ver quarteirões inteiros com esse tipo de habitação. Casas
hoje, praticamente só as que são “expulsas” e segregadas (e sob vigilância das
polícias) nas regiões suburbanas, geralmente de alvenaria, erraticamente
amontoadas, espremendo-se; estão mais para favelas disfarçadas do que para moradias
decentes.
Nem
mesmo Pacaembu, Jardins América e Europa, Alto de Pinheiros, que sempre foram
nichos residenciais “protegidos”, escaparam da vertiginosa sanha das
construtoras!
Claro
que sei que isso pouco importa perante o progresso gerado pela construção civil,
que faz erguer prédios mais prédios, e a consequente riqueza, geração de empregos
e arrecadação de impostos. E o estilo cidade-selva de concreto e vidro, com
seus arrojados e suntuosos designs, vem ganhando corações e mentes dos paulistanos.
E
adoram a vida em condomínios-fortificações de prédios, com seu dinamismo
próprio de microeconomias repletas de lojas, serviços em geral; um tipo de
sociabilidade que isola seus moradores da “verdadeira” cidade.
Ah,
mas as construtoras fazem muito mais que erguer prédios: contribuem (ou são
obrigadas a) por meio de compensações ambientais, plantam árvores, criam
sistemas de reciclagem e se gabam das certificações mais certificações que vão
obtendo.
O
que se costuma fazer com algo em extinção? Se procura preservar, ao menos é o
que sempre vi tentarem fazer. Se ainda há solitárias casas-sobreviventes, suplico
à Vossa Excelência – no embalo do aniversário da cidade - que se encontre uma
maneira de preservá-las para que tenhamos exemplares do que já foi a cidade de
São Paulo algum dia...A preservação “das espécies” não deveria estar acima dos
interesses econômicos e da insensibilidade dos paulistanos? Seria a “última”
salvação perante qualquer argumento. Antes que não saibamos mais o que seja uma
casa....