INfluxo
INfluxo
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
VOLTAR

Brasil

Brasil
Bruno Valverde
set. 22 - 4 min de leitura
000

O Pau Brasil perfumava a Mata Atlântica antes da chegada dos portugueses em 1500. O índio tinha a terra, as matas, as bugigangas e o escambo. O português tinha a pólvora, a nau, o azeite, o vinho e o bacalhau. O português aprisionou a terra e os homens com o Pacto Colonial; as capitanias hereditárias; o latifúndio; a escravidão e a monocultura canavieira. O engenho esmagou ao mesmo tempo a cana, a terra e o homem. A febre do ouro levou ao nascimento de cidades no interior. O barroco é o ouro que não reluz. O café e o algodão trouxeram mares de italianos, japoneses, ucranianos, poloneses e alemães para trabalhar nas fazendas deixando o negro entregue a própria sorte. A crise de 1929 transformou os cafeicultores em pó levando cafezais e algodoais a virarem chácaras, sítios e bairros surgindo assim o vírus da especulação imobiliária. A especulação imobiliária é o vírus que causa a pandemia das favelas. O negro tratado como mercadoria pelo tráfico negreiro e a escravidão foi reduzido com a lei áurea a um ser invisível, marginalizado e violentado pela polícia nas favelas e periferias das cidades brasileiras. Com o fim da escravidão o cativeiro do homem se transformou no cativeiro da terra. A favela se tornou o cativeiro dos pobres enquanto a propriedade privada se tornou o cativeiro dos ricos.

A Amazônia quente e úmida é o carnaval do açaí; da andiroba; do guaraná; do cupuaçu; do igapó; do igarapé; da mata de terra firme; da campinarana e do peixe-boi. O chove e seca do Pantanal faz o carnaval do Tuiuiú, da onça pintada e do cervo do pantanal. As árvores tortuosas do Cerrado fazem a apoteose do Lobo Guará e do Tamanduá bandeira. O sobe e desce dos Mares de Morros da Mata Atlântica fazem o carnaval do palmito; do tucano; da restinga; dos manguezais; da araucária e do mico leão dourado. O mandacaru; o carcará e o Xique-Xique fazem o frevo e o maracatu da nossa Caatinga. O endemismo faz o carnaval chegar nos Pampas. Mas o boi, a bala e a bíblia oprimem o carnaval na Amazônia; Caatinga; Cerrado; Pantanal; Mata Atlântica e Pampas brasileiros.

O boi oprime o Brasil pelo latifúndio, a monocultura e o agronegócio esquizofrênico. O gado transforma a Amazônia, Cerrado, Pantanal e Pampas em pasto. O gado queima nossos biomas. A soja queima nosso cerrado. O café e a especulação imobiliária transformaram a Mata Atlântica em moita. A bala oprime o negro na periferia e o sem-terra no campo. A bala é para tirar o boi de quem nela quer produzir. A bíblia catequiza o cidadão pela religião. A religião vira o véu que esconde as maiores perversidades praticadas pelo ser humano. A religião é o ópio de um povo oprimido que enriquece padres e pastores charlatões. A religião é a máscara que esconde o cinismo de pessoas que são contra o aborto e a favor da pena de morte e da homofobia. O Brasil é um carnaval de índios, brancos e negros. Um carnaval de espécies e ecossistemas. A escuridão e a opressão jamais apagarão a luz do samba de nossa sociodiversidade e de nossa biodiversidade.


Denunciar publicação
    000

    Indicados para você