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BATA PALMA 3 VEZES E DIGA "COGITO ERGO SUM!"

BATA PALMA 3 VEZES E DIGA "COGITO ERGO SUM!"
Cristiane Roberta Xavier Candido
dez. 22 - 4 min de leitura
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A máxima cartesiana "Penso, logo existo" é um dos mais fortes pensamentos que influenciaram a individualização da humanidade a partir da era moderna (lá pelos meados do século XVI e XVII). Nesse processo de individualização, os homens passaram a compreender o mundo e as relações humanas de uma outra forma: desatrelada dos dogmas religiosos e agora crentes na capacidade humana de fabricação.

Quando Descartes observou que todos os fatos da vida, da existência humana poderiam ser ilusões e, sendo assim, em suas meditações identificou que apenas o que poderia existir era o fato de que ele pensava, então um mundo interno se abriu e se condensou. O que poderia existir seria então apenas aquilo que o "eu" consegue pensar em si mesmo e, portanto, somente era válido como real aquilo que os homens pudessem fabricar por suas próprias mãos. 

Essa individualização atravessou décadas e mais décadas... em pelo menos 4 séculos até chegarmos ao que somos hoje... O mesmo sentido de individualização, mas agora ainda mais enraizado. Não conseguimos escrever, pensar, projetar e planejar coisas em nossas vidas sem antes pensar primeiro no que queremos, em nossos sofrimentos, em nossas ilusões e, em nossos sonhos!

É nítido que estamos escravizados em nós mesmos... um exemplo claro disso, é quando em até mesmo nas artes, como na poesia, observamos obras e escritos existencialistas em que os autores e autoras relatam seus dramas, suas felicidades, seus sofrimentos e sortilégios... SEUS e SEUS... o umbigo próprio há muito tempo foi peça de endeusamento pessoal...

São poucos os que gostam e sentem alivio ao escrever sobre o mundo, são poucos os que se sentem pertencentes à imensidão do mundo. Conhecem apenas o que acontece consigo mesmos... nas reentrâncias mais profundas do seu ego pensante. Uma pessoa que pensa só em si, dificilmente saberá efetuar um julgamento imparcial e, portanto, dificilmente conseguirá julgar de forma justa.

É fácil falar de si... fazer belos poemas com suas dores... faz bem! Joga-se pra fora toda a podridão de suas amarguras e dissabores... pode até angariar alguns simpatizantes empáticos que se afinam com seus sentimentos... Mas apenas jogando isso pra fora, será que resolve? Limpa completamente a sujeira que está por dentro? Sozinhos em nós mesmos, dificilmente conseguimos vislumbrar novos horizontes e perspectivas. É necessário olharmos para o mundo fora de nós mesmos e articularmos nossas vidas internas com o que essa esfera externa tem pra oferecer.

É um ato de coragem... afinal, sempre corremos algum tipo de risco... Quando escolhemos em viver "fora da concha" estamos  a mercê da imprevisibilidade do mundo e da sua irreversibilidade (afinal, não podemos voltar no passado), sendo assim, precisamos estar conscientes. O que isso significa? Ora, Descartes não estava tão errado assim... devemos pensar... e pensar muito! Mas também, devemos articular com a esfera do "fora" do nosso ego pensante, e isto implica em responsabilidade, isto é: saber como agir, quando, onde e com quem. Identificar limites (próprios e dos outros), respeitar as variadas formas de existência humana e não impor relações de dominação de qualquer tipo. 

Poesias sobre o "Eu" podem soar lindas... podem ser revigorantes e estimular momentos catárticos fantásticos... podem reciclar os pensamentos... podem ainda afinar simpatias... Mas, ainda assim, te deixam preso a si mesmo e limitado apenas ao que você conhece de si. Precisamos de mais coragem quando essa pandemia acabar... se acabar...

Cristiane Candido
 


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