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A polarização político-ideológica no Brasil da atualidade: O que há por trás?

A polarização político-ideológica no Brasil da atualidade: O que há por trás?
Jorge Pontes
set. 4 - 7 min de leitura
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Toda percepção que se constrói de um cenário político em uma nação é sempre parcial. Aproxima-se da verdade na medida em que, aquele que busca a compreensão, adquire três coisas: Experiência de vida, estudo e disposição na busca do real. O primeiro item é moroso e independe em parte daquele que a possui. Pode-se “esticar” a estadia por aqui através de boa alimentação, exercícios e lazer. Contudo o acaso é fator surpresa e sobre ele quase nenhum controle nos é dado. Uma doença ou acidente grave facilmente põe termo à nossa jornada. O segundo item é passível de controle, principalmente em tempos nos quais o conhecimento está disponível de diversas formas e em tempo real. O terceiro e último item é algo ao qual somente os que vivem em democracias, como a brasileira, tem acesso. Portanto é fator a que qualquer um que se proponha a descobrir tem forte possibilidade de sucesso.

A busca da verdade, terceiro item que apontei, é aquele sobre o qual gostaria de propor uma reflexão. Buscar a verdade se resume em buscar os fatos, ou pelo menos as motivações que culminaram nos fatos. Os fatos aqui têm como pano de fundo as opiniões, os posicionamentos, que na percepção aqui exposta são os reais elementos geradores dos acontecimentos.

Quando se fala em polaridade o primeiro esclarecimento a se fazer é entender os polos e o centro. Progressismo, conservadorismo e centralidade são os posicionamentos a compreender. Não se pretende aqui traçar um estudo academicista dos termos, mas aproximá-los o melhor possível de uma compreensão resumida e sucinta.

Para os progressistas há uma ideia subjacente a todas às suas ações e decisões. A essa ideia denominamos: desconstrução. Sem se aprofundar muito no pensamento marxista, base teórica de todo progressista, é fácil compreender porque bandeiras apoiadas por radicais ou mesmo moderados de esquerda, se referem sempre à desconstrução de padrões comportamentais e culturais que de alguma forma reforçam a preservação da sociedade baseada no Capital. Família patriarcal, hegemonia da heterossexualidade e religião judaico-cristã são quase sempre os alvos dessa desconstrução. No fundo, o que todo progressista propõe, consciente ou inconsciente, é a reforma social cuja primeira motivação é a justiça social. A questão é que a história e os fatos demonstram que essa ideia, apesar de bem intencionada, não gerou frutos que justificassem seus ideais.

Há que se definir ainda que ha três tipos básicos de progressistas: Os ingênuos, ávidos por justiça social, depositantes de uma fé inabalável no posicionamento de esquerda e em seus líderes, estes nem sempre merecedores de tal confiança; Os intelectuais, conhecedores dos autores clássicos e modernos cujos exemplos respectivos poderiam ser o próprio Marx e Antonio Gramsci. A este tipo de progressista dá-se o crédito do embasamento teórico o que em certa medida lhe reduz ou impede totalmente o cinismo, característica marcante do terceiro tipo de progressista: Os canalhas; Este grupo é melhor representado pela classe política que faz uso dos dois tipos anteriormente citados e se utilizam do embuste de defensores do povo e das classes desfavorecidas. No fundo só desejam poder e tudo o que sua preguiça e canalhice os impedem de conquistar através do trabalho.

Para os conservadores a melhor definição a se fazer é incluí-los também em três categorias: Os reacionários, os liberais e os canalhas. Os reacionários são o extremo do conservadorismo. Igualam-se ao primeiro grupo de progressistas com uma exceção. A ignorância dos progressistas ingênuos difere da dos liberais reacionários, pois que estes possuem um saber, porém trata-se de um saber preconceituoso, classista e burguês, no sentido mais elitista da palavra. Desejam uma monarquia católica tupiniquim na qual os Orleans e Bragança retomam o poder ocupando os vários casarões de Petrópolis trazendo à tona nossas pretensas raízes europeias. Uma mistura surreal de preconceito e nostalgia. Os liberais podem ser igualados aos intelectuais progressistas. São em sua maioria acadêmicos com forte influência de pensadores como Friederich Hayek ou Milton Friedman. No fundo sabem que um mercado livre e próspero é a melhor maneira de se evitar excessos revolucionários de tendência esquerda. Se quase todos ganham, quase todos estão felizes. Sabem que a perfeição é utopia e seu pragmatismo é o que melhor os distancia do idealismo de esquerda. Por fim os canalhas. Não há quase nenhuma diferença destes com relação aos canalhas de esquerda. Ambos só querem poder, só pensam em si próprios e em sua maioria ou vivem do Estado, na condição de políticos e correligionários. Há! Entre estes também não se pode deixar de citar os empresários neoliberais tupiniquins, que adoram o discurso de economistas como o Paulo Guedes, mas não dispensam um incentivo fiscal público ou um emprestimozinho no BNDES. “Estado!? Só pra nois”.

Finalizando estas linhas é favorável fazer uma defesa àqueles vistos como covardes, omissos ou sem opinião. Os que estão em cima do muro. O fundamentalismo hoje no Brasil é a pior das opções. Longe de se exemplificar no Centrão congressista, mistura fina do que há de pior na política brasileira, centralidade aqui significa equilíbrio. É preciso compreender hoje que a despeito dos erros do PT, partido que praticamente monopolizou a representatividade dos trabalhadores, não se pode negar o fato de que a mão invisível do mercado acaricia os patrões e pesa sobre os ombros dos trabalhadores principalmente os menos escolarizados. Estimular um governo neoliberal no Brasil, país com sérias e crônicas carências estruturais como educação, saúde e segurança, é fazer de conta que seremos capazes de suportar a explosão no crescimento de marginalizados cultural e economicamente, resultado certo deste sonho de perfeição capitalista, basta ver o que ocorre hoje em muitas cidades americanas como Detroit e muitas outras cujo capital volátil dos investidores não tem nenhum compromisso com os cidadãos quando os lucros começam a diminuir seus zeros.

Da mesma forma que não se pode admitir que em uma sociedade estatizada nem todos sejam operários, em uma sociedade liberal nem todos são empreendedores ávidos por dinheiro e viciados em palestras motivacionais. Sempre haverá os que só querem sobreviver dignamente e cujo objetivo de vida não se resume apenas em acumular dinheiro.

A centralidade hoje no Brasil é necessária para se preservar duas coisas interdependentes: A democracia e o embate de ideias, condições sine qua non para existência do Estado Democrático de Direito. Manter a luta e a defesa dos trabalhadores, tarefa de oposição que só a esquerda pode fazer, e estimular a percepção de autonomia e otimismo por parte dos trabalhadores, função que só a fé dos liberais pode exercer, são dois pilares essenciais de nossa sociedade. A falta de um deles resulta na hegemonia do outro. Neste ponto fascismo de direita e ditadura do proletariado quase não apresentam diferenças significativas.

 

Foto de Vinicius Vieira

 


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