Agradável
sensação eu experimentava sempre que passava em frente àquela pequena casa térrea
na cidade de São Paulo; judiada pelo tempo e simples nas suas linhas arquitetônicas
de estilo antigo. O farto quintal, todo de terra, a rodeava (frente, lateral e
fundos); muitas plantas espalhadas em meio ao mato crescente e a generosidade
de uma enorme e frondosa árvore.
Uma
escada de cimento com seus três degraus levava a um alpendre antes de se chegar
à porta de entrada. A fachada de pintura amarela já bem desgastada contrastava
com a grande janela verde, de madeira, ao estilo antigo. Não a conheci por
dentro, mas tudo indicava ter uma sala, dois quartos, banheiro e a cozinha que
dava para o quintal, na parte dos fundos.
A
casa estava vazia há algum tempo. Em determinado dia colocaram uma placa onde
se lia: “Vende-se”. Logo a placa foi retirada e se viu que foi vendida, pois pilhas
de materiais de construção foram erguidas logo na entrada, conforme pude ver
pelas frestas de um enorme tapume colocado no lugar do portão.
Ao
menos externamente se via que a casa precisava de uma boa pintura (paredes,
janelas e portas), aparar o mato, realizar melhorias aqui e acolá; enfim, uma
reforma. Eu imaginei que quem a comprou assim pensasse. Mas não; logo percebi
que a obra seria de grande envergadura, quebrando a minha expectativa de ver
uma casa reformada, mas preservando o estilo original. Achei que ficaria linda.
Mas isso ficou apenas em minha imaginação.
Aos
olhos da maioria das pessoas de hoje creio que o resultado da “destruição” e
construção de uma nova casa ficou fascinante porque adoram o moderno e o sofisticado.
Não
há mais terra no quintal; agora é cimento e cerâmica. A árvore foi mantida em meio a um buraco de
terra (talvez a ânsia fosse arrancá-la, o que poderia esbarrar em restrições
ambientais), a escada e o alpendre sumiram. Na fachada a janela de madeira
cedeu lugar a uma outra, enorme, de vidro, protegida por grades. Pequenos retângulos
de vidro, nas laterais (em cima, próximas ao telhado, e mais para baixo) foram
colocados, muito ao gosto das construções atuais. Um enorme portão gradeado quase
que totalmente encobriu a casa.
Talvez
os novos donos agora digam: “a casa é pequena, mas tem sua suntuosidade, segue
os padrões modernos”.
Eu
que adoro casas antigas (não necessariamente históricas) lamento por ser uma a
menos numa cidade que vai destruindo o estilo passado, sem maiores preocupações
preservacionistas, quando não cedendo lugar a prédios gigantescos.
Não
há como escapar da imagem que rapidamente vem à minha mente em situações como
essa, refletindo um outro e oposto conjunto arquitetônico: o das tão poucas
cidades históricas brasileiras que sobraram e às duras penas tentam resistir,
preservando as fachadas dos imóveis.
* Publicado originalmente na II Antologia taquaranense de escritores leitores e convidados, organizada por Wal Ferry.