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As Potencias de Meu Ultimo Silencio

As Potencias de Meu Ultimo Silencio
Clávio Jacinto
jan. 26 - 6 min de leitura
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Foi naquela manhã de inverno, as névoas cobriam o cume do monte, a sensação de mistério pairava no ar, e a vontade de subir até o cimo era enorme. A jornada de um homem deve ter uma direção certa e segura, é melhor confrontar os obstáculos no caminho certo do que perder-se no caminho fácil. Então prossegui, não levava quase nada, apenas a posse dos pensamentos de Picard e Kierkergaard, bagagens no depósito de meus pensamentos. A transfusão espiritual das ideias ricas para um coração pobre. E não deixaria de carregar o livro de Jó, junto aos gritos mais possantes do sofrimento humano.  Ao chegar ao cume da montanha, encontrei-me no reflexo da minha alma, na solidão das alturas, pois é o lugar em que encontramos menos pessoas a terra da solidão e o reino de nossas ausências.  A conquista de lugares elevados é para os possuem umas virtude chamada coragem e para os não têm medo da ficarem sozinhos, mas é na solidão que nasce aquele desejo de ouvir a voz da consciência, a voz do coração, é como se dentro dessa dimensão surgisse um novo universo, um portal cósmico onde uma pedra é removida, e você entra por uma brecha no tempo num novo mundo, ou talvez nas margens finais do universo existencial.

Poderia começar a falar sobre o fato da interioridade ser um fato, um lugar onde nós podemos encontrar nossa verdadeira identidade. Isso é bom, parece que a civilização entorna nossa visão, o barulho do mundo parece ser uma mortalha que cobre a nossa alma, e a lição é primordial, antes de conhecer o outro, precisamos conhecer a nós mesmos. Sobre uma pedra me sento e me sinto feliz, a pedra de Jacó, a coluna de um Betel pessoal, então cada momento sem palavras é um fio da tapeçaria da existência, a cobertura de um homem que se encontra nu diante da ausência da civilização. A sensação da realidade profunda ocorre pelo caminho do silencio, a ausência de barulhos artificiais faz fecundar dentro de nosso coração a presença da verdadeira percepção, então percebo além da filosofia do “penso logo existo” um êxodo para o “Existo, logo posso pensar e sentir.” Então aprendi a navegar nesse oceano de ausências não artificiais e começo a existir para fora dos padrões supérfluos, para ganhar interioridade e fortalecer o meu coração nas coisas verdadeiras. Pois bem, veio a saudade da minha família, aqui está os detalhes dessa ruptura com o profano e a entrada para um caminho sagrado: o amor. O amor nasce no silencio e move-se por ações verdadeiras. O amor não precisa de palavras,  Um gesto silencioso é um grande sermão sobre o amor. Talvez a arte de amar dentro do coração, seja  um movimento interno onde as engrenagens da alma movem-se para produzir carinho, benefícios ou gerar uns sentimentos destilados e embriagantes chamados saudade e paixão.  Mas eu preciso prosseguir, afinal o silencio parece uma videira que frutifica sem parar, com as matizes mais vivas de cores sentimentais dentro coração, alem disso como um Patmos que abre o céu da inspiração, você percebe que não está sozinho, quando todas as névoas da alma se dissipam, os olhos do coração percebem a extremidade da vida e do tempo, é maravilhoso como podemos penetrar nos mais íntimos da natureza, e a impressão é que as montanhas foram feitas para que o homem conquistasse o cume e contemplasse a dimensão de todas as coisas mais sublimes, pois lá nas alturas o céu se expande o mar distante aparece, a civilização se torna minúscula e as coisas pequenas se tornam grandes. Há aquele momento prazeroso de olhar para uma pequena flor nos confins do cimo que abriu-se especialmente para você, pois possivelmente eu sou a única pessoa no mundo que observou a sua existência. É um sentimento nobre, como se uma crença nova surgisse, aquela flor nasceu para mim e eu para ela, até que meu egoísmo seja quebrado pela abelha que compartilha comigo da existência dela. Essa percepção é mais bela, pois agora aprendi que quando algo é de suma importância para nós, ao ser compartilhado com outro, não perde em nada a medida do seu valor. Aprendo que o desprender-se das vaidades é uma lição muito dura, é um dos problemas mal resolvidos da humanidade, percebo que no silencio não precisamos de muitas coisas para ser feliz. Não precisamos nem mesmo  das glorias do mundo para sentir satisfação. Quando a simplicidade ilumina o coração, o sussurrar da brisa suave das alturas dá mais satisfação do que os aplausos dos homens. O amanhecer não precisa de um toque de trombeta para apresentar um grande espetáculo, a glória da sua luminescência ocorre de modo completamente silencioso. Estou satisfeito coma  experiência, a minha efemeridade não me assusta, a minha mortalidade  corta os tentáculos da minha vaidade, percebo que o tempo me leva, lembrei-me de Louis Lavelle e sua proclamação da republica do tempo, eu sei que a brevidade é uma fração do eterno, as vezes a resposta das mais misteriosas perguntas podem ser encontradas na profundidade do silencio, então eis a verdade; o silencio não é ausência das coisas mas a fonte onde os poetas bebem inspiração e os filósofos sabedoria.  Eis, pois como me consola ao ver a sepultura de um homem sábio, pois ele está mergulhado na fonte de toda a plenitude: O silencio.

 

Clavio J. Jacinto

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